sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O MASSACRE DO ESTUPRADOR

Terça-feira, 15 de julho de 1997.
O estuprador José Aparecido, de 38 anos, chega na Cadeia Pública de Itu.
Ele veio transferido de Cabreúva, onde havia sido detido.
Seus antecedentes logo são relatados para os outros detentos. Não são dos melhores.
Ele não é bem recebido.
Olhares tortos, ameaças, caras fechadas. Ninguém gosta dele.
Aparecido é acusado de estuprar as próprias filhas.
Para os demais detentos, estuprador merece pena de morte.
Por esse motivo, Aparecido é colocado isolado em uma cela, junto com outros três presos, da mesma laia, segundo os detentos.
Alguns desses três presos são caguetas, outros estupradores, ou “Jacks”, no jargão popular.
A primeira noite do novo estuprador na cadeia, não é nem um pouco tranquila. Nem poderia ser.
Os presos estão revoltados em saber que tem Jack novo na cadeia, e o pior, Jack que violenta as próprias filhas.
Um preso, mais revoltado, começa a dizer para os outros que o estuprador “tem que subir”. Todos concordam.
Alguém, não se sabe quem, ferve uma panela de água.
Vários presidiários enquadram o estuprador, e o que é previsto acontece. Uma panela de água fervendo é jogada contra ele.
O preso grita, pede socorro, geme de dor.
Os detentos falam que estuprador tem que morrer mesmo, e que o fim dele, está próximo.
O estuprador não dorme aquela noite. Fica o tempo todo em pânico, desesperado, temendo o pior. E o pior realmente está por vir.
A manhã chega mais rápido do que era de se esperar. E com ela, o prenúncio de uma morte já encomendada.
São exatamente 9h30, quando começa o tumulto na prisão.
O diretor da cadeia, doutor Moacir Rodrigues de Mendonça, está ausente. O delegado está cumprindo outro compromisso, realizando exames de trânsito, já que também é o responsável pelo Ciretran.
Sem o delegado para controlar o tumulto, os presos aproveitam o “banho de sol”, para atacar os caguetas e estupradores da “celinha 1”. É nesta cela que Aparecido está isolado.
Os detentos cercam a cela, começam a tentar estourar o cadeado e matar os quatro presos isolados.
A cadeia fica em estado de loucura, parece que vai explodir a qualquer momento.
Na confusão, o delegado doutor Domingos Martelini tenta dialogar com os presos para acalmá-los. A Guarda Municipal e Polícia Militar são acionadas para conter a rebelião.
Depois de conversarem com o delegado, os presos aparentemente desistem da matança. Mas só aparentemente.
Assim, que os policiais civis, militares e guardas se retiram do pátio, os presos voltam novamente ao ataque contra os detentos da cela 1. É nessa hora que eles pegam José Aparecido e dão uma violenta surra nele.
Chutes, socos, tapas na cara, joelhadas, o estuprador é agredido de todas as formas, mas os detentos querem mais. Querem sangue.
No meio de toda aquela violência, novamente alguém, é claro que não se sabe quem, passa uma corda de nylon no pescoço do estuprador, dá um laço na grade da cela e enforca o homem que violentou as filhas.
Quando a polícia se dá conta do que está acontecendo, já é muito tarde, o estuprador está morto.
João Aparecido, o estuprador de Cabreúva, não seria o primeiro e nem o último Jack, a ser espancado e brutalmente assassinado na Cadeia Pública de Itu.