terça-feira, 11 de maio de 2010

O BRUTAL ASSASSINATO DE VANDERLEIA


Manhã do dia 31 de julho de 1998.
A jovem Vanderleia de Paula Gregório Pereira está indo para o trabalho.
Ela tem apenas 22 anos, é uma jovem bonita, alegre, cheia de vida, esperança, planos e sonhos. Apesar da juventude, Vanderleia já é casada e tem uma filha de 3 anos.
Faz apenas três dias que ela arranjou um emprego de empregada doméstica em uma casa localizada em um condomínio da cidade.
A mãe dela, dona Maria Idalina, nunca quis que a filha trabalhasse. Pessoa simples e muito humilde, dona Idalina é uma verdadeira guerreira, sempre trabalhou, desde criança, sempre lutou para dar tudo para Vanderleia, sua única filha mulher. Seja trabalhando como jardineira, ou até mesmo na roça, como cortadora de cana, a mãe sempre deu de tudo para a filha, bancou seus estudos e na medida do possível, fez o que pôde para realizar todos os sonhos da filha que ama. Vanderleia sempre correspondeu o amor da mãe, sendo uma filha obediente, carinhosa e amorosa.
Na segunda-feira, dia 27, Vanderleia finalmente começou a trabalhar. É o seu primeiro emprego. Era seu sonho ter um emprego, ter seu próprio dinheiro, sua independência. Ela está feliz. Pensa nos seus planos, pensa nos seus sonhos. Ela não sabe que seu quarto dia de trabalho será o último.
São 8h. Para chegar no horário no trabalho, Vanderleia corta caminho por um trio, localizado em um matagal do Jardim Bandeirantes, que liga a rua Almirante Barroso, com a portaria do condomínio, na rua Esmeralda.
Para encurtar caminho, pelo menos cem pessoas que trabalham no condomínio, passam diariamente por esse trio. Cerca de cinquenta dessas pessoas são mulheres.
Vanderleia, que mora no Bela Vista, decide passar por esse caminho, é mais rápido, mais prático. O que ela ainda não sabe, é que o caminho também é mais perigoso.
Há um mês, uma empregada doméstica foi assaltada nesse local.
Vanderleia não sabe disso. Nunca vai saber.
A manhã, está fria, o ar gelado. A jovem caminha pelo mato, ao lado do muro do condomínio. O perigo está muito próximo. Mas ela ainda não sabe.
Faltam menos de cinco minutos para ela chegar à portaria. Ela não vai ter esse tempo.
Sem o menor aviso, um homem, que pode ser qualquer um, surge no meio do mato e agarra a jovem pelo braço. Ela tenta se desvencilhar dele. Não consegue.
O homem leva a jovem a força, para uma cabana feita pela própria mata.
Vanderleia é uma mulher bonita. Talvez ele queira violentá-la. Talvez ele queira simplesmente matá-la. Ninguém sabe.
A jovem é agredida violentamente com pedradas e pauladas na cabeça. O homem quer matá-la, isso agora já está claro. Mas por qual motivo? Será que ele quer estuprá-la e por ela estar lutando ele decidiu matá-la? Será que é algum tipo de vingança? Improvável, a jovem não tem inimigos. Será que alguém encomendou o crime? Quem sabe, quem vai saber? Se for isso, “quem” e o principal “por quê”?
Vanderleia é jogada no chão, fica toda suja de lama, o homem bate sua cabeça novamente em uma pedra do local. Ela já está toda ensanguentada pelo espancamento que está sofrendo, mas se recusa a ceder. Guerreira como sua mãe, uma verdadeira lutadora, ela não vai aceitar ser morta naquele local.
Com uma força descomunal nesse momento de terror, Vanderleia se levanta, livra-se do maníaco e corre, mesmo com os graves ferimentos. Ela entra correndo no condomínio, passa direto pela portaria e chega na casa de seus patrões. Gravemente ferida, já entrando em choque, suja de sangue e lama, mas sem as roupas rasgadas, o que deixa claro, que não chegou a sofrer violência sexual, ela repete em desespero para o patrão que foi espancada por um homem. Socorrida às pressas ao Pronto Socorro Municipal, Vanderleia entra em coma logo em seguida.
Onze dias depois do ataque, às 3h da manhã, Vanderleia morre no hospital Leonor em Sorocaba, para onde havia sido transferida.
A causa da morte: Fratura do crânio e hemorragia intra cerebral.
Nos dias seguintes ao crime, a Prefeitura manda limpar o local onde a jovem foi atacada, a Polícia Civil investiga o caso, mas o assassino...não é descoberto.
Existem ideias, desconfianças, especulações e até suposições sobre o caso Vanderleia, mas, até hoje, exatamente onze anos, um mês e vinte dois dias, após a morte da jovem, a sociedade saltense jamais viu o esclarecimento desse caso, que por sinal, já está arquivado há anos.
Quem matou Vanderleia? E Porquê? Estas são as duas perguntas que ainda permeiam o inconsciente coletivo da população, dos amigos e das pessoas que a conheceram e jamais se esquecerão dela.
Como repórter policial, com grande experiência em casos de homicídios, eu não ficaria surpreso se neste exato momento, o assassino de Vanderleia estiver lendo esta reportagem, relembrando cada detalhe do crime que ele cometeu, enquanto contempla mais uma vez, o rosto de sua vítima.
Não, eu não ficaria surpreso. Nem um pouco.

MASSACRE NO QUIOSQUE


Sexta-feira, 5 de janeiro de 2005.
Em sua casa, localizada na rua Santo Agostinho, no Jardim Nova Era, o comerciante Lorinaldo da Silva, de 33 anos, pensa no crime que está prestes a cometer.
Durante quatro anos, ele foi amasiado com a comerciante Silvana Beserra da Silva, de 30 anos. Ele acabou se casando oficialmente com ela e conviveu mais 6 anos.
Enquanto estavam juntos, o casal adquiriu vários bens, sendo os principais, uma casa e um quiosque, localizado no Jardim Elizabeth em Salto, entre os cruzamentos das ruas Escócia com a América.
Há oito meses, a união do casal terminou. E foi após essa separação que os desentendimentos maiores começaram. Desentendimentos envolvendo principalmente, a divisão dos bens.
Silvana já registrou vários boletins de ocorrência contra o ex-marido, tanto de ameaças, quanto de lesão corporal dolosa, já que foi agredida fisicamente por ele, mais de uma vez.
As discussões e ameaças, inclusive de morte, ficam cada vez pior.
No dia 28 de agosto, de 2004, após agredir Silvana, Lorinaldo é preso em flagrante com um revólver calibre 32. A arma estava descarregada. Por conta desse processo, o comerciante fica detido uma semana na cadeia.
Quando sai, a ideia de matar sua ex-mulher, por vingança, passa por sua cabeça.
Amigos e conhecidos dizem pra ele tirar essa ideia absurda da mente.
Ele aparentemente concorda. Aparentemente.
Tempos depois, ainda inconformado, ele vai até o quiosque, que está com Silvana, para tirar algumas satisfações com a esposa.
É nesse local, que ele leva uma violenta surra do irmão dela e de um segurança que trabalha no local.
Lorinaldo volta pra casa revoltado, com muito ódio. E sedento de vingança.
E de repente, aquela ideia absurda de matar a ex- mulher... já não parece tão absurda assim.
Enquanto raios cortam o céu e trovões anunciam a chuva que está prestes a cair, Lorinaldo verifica o tambor do revólver calibre 38 em suas mãos. A arma está carregada. Seis balas. Para o que ele vai fazer, a munição é mais do que suficiente.
São 20h30. A noite de sesta-feira vai ser macabra.
A chuva já começou.
Silvana, sua irmã Gislaine Cristina, de 14 anos, ambas residentes em Itu, a cunhada das duas irmãs, Monica Aparecida Mometto, 26 , e o segurança e ex- guarda civil municipal Rogério Aleme, 41, estão recolhendo as cadeiras que estão na parte externa do quiosque.
O segurança não tem nenhum envolvimento com a surra que o comerciante levou há pouco tempo. Mas está no lugar errado, no dia e horário errado.
Se está ali para proteger, Rogério, que mora na rua Tomaz Antonio Gonzaga, na Vila Teixeira, não vai poder cumprir sua função. Não vai conseguir proteger nem a si próprio.
A chuva já está bem forte, quando Lorinaldo se aproxima do quiosque.
Seu olhar é vazio e assusta todos que estão no local.
O comerciante não diz uma única palavra, quando saca o 38 da cintura.
Silvana se assusta e tenta fugir. Não consegue. Ela é baleada pelas costas e cai no chão ainda viva. Lorinaldo se aproxima e dispara outro tiro, a queima-roupa, desta vez, na cabeça dela. Uma testemunha, ao ver os disparos, consegue fugir e se esconder atrás de um carro, de onde presencia o massacre. Ela vai ser a única sobrevivente para contar a história.
Após atirar na ex- mulher, o comerciante se volta para o segurança. Rogério está tentando fugir da matança, quando recebe um tiro nas costas. Ele ainda se esforça para conseguir sobreviver, atravessa a rua e cai na porta de um comércio. Lorinaldo vai atrás dele e dispara outro tiro, na cabeça. O segurança não se move mais.
A chacina ainda não está completa, a sede de matar ainda não foi saciada.
O comerciante sabe que a irmã de sua ex, e a cunhada dela, estão escondidas dentro do quiosque, deitadas no chão. Ele quer matá-las também.
As duas choram e rezam pedindo proteção a Deus. Se Ele ouviu, as preces jamais serão atendidas. Não nesta vida.
Lorinaldo ainda tem duas balas no revólver. Uma ele dispara em Gislaine, a outra ele reserva para Monica. Após efetuar os dois disparos, o matador deixa as duas mulheres sangrando no local e vai embora tranquilamente.
Minutos depois, o Resgate do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Civil e Guarda Municipal, chegam ao local. Fiéis de uma igreja próxima, que passam por ali, ajudam no socorro das vítimas baleadas. Não vai adiantar nada.
Silvana e Monica são as primeiras a morrerem, assim que dão entrada no Hospital Monte Serrat.
Gislaine, em estado gravíssimo, morre no domingo, no Hospital Regional de Sorocaba. No mesmo hospital, na segunda-feira, morre o segurança Rogério.
É manhã de segunda quando os policiais militares Carlos e Giovani, decidem passar na casa do matador pra ver se ele apareceu por lá, já que está sumido desde o dia da chacina.
A surpresa: ao entrarem na casa, se deparam com o matador. Ele tenta fugir pulando a janela e saindo pelo corredor externo, mas é detido pelos policiais.
Conduzido até a Delegacia Central, Lorinaldo revela que após praticar os crimes, fugiu para um matagal nos fundos do Jardim Celani, próximo do Rio Tietê. Foi nesse local que ele se livrou da arma utilizada na matança.
Ele diz ainda que passou as noites de sexta e sábado nas margens do rio e no domingo, foi até o prédio da antiga empresa Marsicano, onde permaneceu, até decidir voltar pra casa.
Sobre os assassinatos, Lorinaldo revela que foi até o quiosque “com intenção de acertar contas”, com as pessoas que o haviam agredido, no caso, o irmão de Silvana e o segurança. Porém, ao não encontrar nenhum dos dois no local, resolveu “atirar em tudo quanto é canto”, segundo suas próprias palavras.
O “massacre do quiosque”, ou “a chacina do quiosque”, como esses crimes ficaram conhecidos, foi mais um caso violento e aterrador que entraram para as crônicas policiais de Salto. E jamais será esquecido.

OS HORRENDOS ASSASSINATOS DE VANDERLEI E VALDECI

Noite do dia 29 de novembro de 2005.
Dois amigos conversam alegremente em uma residência do bairro Salto de São José.
Um deles é Valdeci Leal, rapaz bonito, de 36 anos. Com segundo grau completo, muito educado e dono de várias amizades, ele reside com a irmã mais velha no Salto de São José, desde que a mãe morreu há dez anos. É um bom rapaz, trabalhador, honesto, o tipo que não dá trabalho pra ninguém.
O outro rapaz tem o mesmo perfil. Ele é Vanderlei Dias de Oliveira, 35 anos. Tão discreto quanto o amigo, possui curso superior completo. É formado em administração de empresas. Mora sozinho em uma casa alugada do Jardim Santo Stefano. Tem um bom emprego e possui um automóvel bacana, um Corsa Sedan, cor prata.
O que os dois rapazes conversam, ninguém sabe ao certo, já que são muito discretos e não costumam dividir intimidades com a família e amigos.
Faltando 20 minutos para às nove da noite, Valdeci e Vanderlei saem de casa. Eles nunca mais irão voltar.

Dia 1 de dezembro
A irmã de Valdeci e um amigo de trabalho de Vanderlei, chamado Wilians, comparecem à Delegacia Central. São 12h e 15 minutos. Ambos estão registrando o desaparecimento dos dois rapazes. Um não retornou pra casa. O outro, não apareceu mais na empresa onde trabalha.
Wilians informa no boletim de ocorrência que, desde o dia 30, Vanderlei não aparece no trabalho. Por esse motivo ele foi até a casa do amigo, onde encontrou as luzes acesas e soube pelos vizinhos, que, na noite do dia 29, houve movimentação de veículo e pessoas na residência. De lá pra cá, ninguém mais viu Vanderlei. Suspeitando que o amigo pudesse estar dentro da casa, precisando de ajuda, Wilians procurou a Polícia e foi orientado a procurar um chaveiro para abrir a porta e verificar o imóvel. Ele fez isso. Porém, constatou logo de início que o automóvel do amigo não estava na garagem. Mas, estava tudo aparentemente normal. Normal até demais. E foi por isso que ele decidiu registrar o boletim de desaparecimento.
A irmã de Valdeci relata que, na noite do dia 29, seu irmão e o amigo Vanderlei estavam juntos na casa dela, quando decidiram sair, como sempre faziam. Diferente das outras vezes, que costumava manter contato com a família, informando onde estava, Valdeci não manteve mais contato. Ao ligar para o celular do irmão, ninguém respondeu as chamadas.
Imaginando que Valdeci tivesse sido vítima de um roubo ou coisa pior, a irmão registrou o desaparecimento.

Dia 2 de dezembro
Já passa da hora do almoço, quando a Polícia Militar recebe informações de que dois cadáveres foram encontrados em um matagal da Estrada Sete Quedas.
A PM vai até o local.
A cena que se vê não é nada bonita. Pelo contrário, é aterradora.
Embaixo de um pneu, já parcialmente queimado, está um cadáver começando a entrar em decomposição. A vítima apresenta uma fratura exposta na mão esquerda. Está de bermuda, camiseta camuflada e descalça. Tem outros pneus perto dele. Alguém pretendia colocar fogo no cadáver. O morto é Vanderlei.
Não muito longe dele, está o corpo de Valdeci, também estirado no mato. Ele está de bermuda verde, camiseta do Corinthians e uma sandália Rider. O rapaz tem uma lesão profunda na cabeça, e seu pescoço está rasgado.
Há indícios de que os dois rapazes, antes de morrerem foram agredidos brutalmente, com extrema covardia. O assassino deve ter usado uma faca e um barra de ferro, provavelmente. As armas do crime não são encontradas.
Mais tarde, o laudo vai revelar que a morte de Valdeci, foi causada por choque hemorrágico, decorrente da fratura exposta no pulso, causada por um “instrumento contundente”. Gravemente ferido, o rapaz sangrou até a morte.
O laudo da morte de Vanderlei vai revelar que o corte no pescoço foi a causa de sua morte, quase que instantânea.
O caso, que até então está sendo tratado como desaparecimento de pessoas, torna-se latrocínio, roubo seguido de morte. A polícia trabalha com essa hipótese pelo fato do carro de Vanderlei não ter sido encontrado. Suspeitam que, mataram os rapazes para roubar. É uma hipótese. Apenas uma hipótese.
Nos dias que se seguem ao duplo homicídio, várias pessoas começam a ser ouvidas pela Polícia Civil. Uma sabe menos que a outra. E o pouco que sabem, ou não falam, ou falam evasivamente. Vez ou outra, alguém diz alguma coisa relevante sobre os crimes.
Um tio de Vanderlei, conta que esteve na casa do sobrinho após saber da morte dele. E conta que, na ocasião, uma vizinha da vítima comentou que no dia em que ele sumiu, um rapaz moreno, alto, magro, rosto fino, cabelos cheios, foi visto na porta da residência com o automóvel de Vanderlei.
O tio, recolhendo os pertences do sobrinho, encontra uma foto de Vanderlei junto com um rapaz, que bate exatamente com a descrição fornecida pela vizinha. Com a foto em mãos, o homem procura novamente a vizinha para fazer o reconhecimento. Mas não consegue mais falar com ela. A filha da vizinha diz que a mãe está trabalhando e já adianta que ela não consegue reconhecer o rapaz. Fica claro para o homem que a vizinha está com medo de se envolver.
Ainda tentando identifica o rapaz da foto, ele mostra a mesma para um antigo vizinho do sobrinho. Ele identifica o rosto do retrato, como sendo um rapaz chamado Vagner. Esse vizinho ainda confidencia que Vagner morava junto com Vanderlei, mas havia sido expulso da casa, depois de um roubo que ocorreu no local.
O mesmo vizinho também conta que, quando Vanderlei não estava em casa, Vagner costumava levar muita gente lá, inclusive “travestis, prostitutas e homossexuais”.
Por esse motivo, Vagner acaba se tornando o principal suspeito do crime.
Um irmão de Vanderlei, apura os mesmos fatos que o tio, e fica convencido de que o rapaz que apareceu com o Corsa na casa da vítima, quando ela já estava desaparecida, era mesmo Vagner, e que a vizinha, estava com medo de falar.
Um amigo de faculdade de Vanderlei, ouvido pela polícia, conta que, no dia 23 de março de 2005, estava na casa do falecido, quando alguém bateu na porta. Vanderlei abriu e, pelo que o amigo viu, ele conhecia as pessoas que o chamavam. Quando deu as costas, pra ir buscar água para os dois rapazes na porta, eles anunciaram um assalto. De arma em punho, um dos assaltantes ficou vigiando os dois enquanto o outro foi buscar seus comparsas para ajudar no crime.
Depois de roubarem inúmeros pertences da casa os ladrões deram uma violenta surra em Vanderlei. Com o amigo da vítima, não fizeram absolutamente nada, deixando claro que a surra, era uma questão pessoa com Vanderlei, por algum motivo desconhecido.
Os ladrões fugiram em seguida, levando todos os pertences da vítima em um veículo Fiat, que Vanderlei tinha na ocasião. Porém, dois dias depois, ligaram pra ele indicando onde o carro estava.
No boletim de ocorrência que registrou sobre o assalto, Vanderlei nega conhecer os criminosos. Talvez por medo. Fica claro que está mentindo.
Assustado com o ocorrido, Vanderlei chega a mudar de casa.
Ouvida pela polícia, a vizinha que viu o suspeito sozinho no carro de Vanderlei na noite do crime, conta que o rapaz pretendia entrar na casa, mas ao ver muitas pessoas perto da residência, decidiu não descer do carro e foi embora. Teve medo de ser identificado.
Ela vê a foto, mas diz não saber ao certo se o rapaz é ou não Vagner.
Outra vizinha de Vanderlei, também ouvida pela polícia, revela que a vítima era muito discreta e sempre que chegava acompanhada em casa, mantinha os vidros do carro fechado e como o portão era automático, não dava pra ver quem entrava ou saía. Mas, confirma que no dia do desaparecimento, viu outro rapaz com o carro dele na porta da casa. Isso, depois que a vítima já tinha desaparecido.
Segundo testemunhas, Vagner, que não trabalhava, era sustentado por Vanderlei e foi expulso da casa, por ser o mandante do roubo ocorrido no local em que residia. Esse foi o motivo da briga que resultou em sua expulsão do local.
A Polícia Civil começa uma investigação para descobrir o paradeiro do principal suspeito. Mas, ele desapareceu.

Dia 2 de maio de 2006
O policial civil Enéas e os guardas municipais Paludeto e Rosão, ambos emprestados para a Polícia Civil, vão até a cidade de Juquiá, interior de SP, onde encontram a avó de Vagner. Ela diz que não vê o neto há dois anos e que o mesmo está morando com a mãe em Serra Azul, na região de Ribeirão Preto.

Dia 29 de agosto de 2006
Vagner é encontrado pela Polícia Civil de Serra Azul e ouvido pelas autoridades daquele município, a pedido da Polícia de Salto.
Ele conta que morou junto com Vanderlei por seis meses e, mesmo depois de ter saído da casa, todas as vezes que vinha pra Salto, dormia na casa do antigo companheiro. Diz ainda que esteve na casa da vítima pela última vez, quatro meses antes do crime. Conta que, após, sair da casa por não poder mais dividir as despesas, teria ido embora para a cidade do Guarujá, litoral paulista. Ele nega que tenha sido expulso de casa e afirma que um amigo em comum, entre ele e Vanderlei, em companhia de um outro sujeito, tenham planejado o assalto na residência. Vagner conta também que ainda avisou Vanderlei que planejavam roubá-lo.
Após tentar envolver pelo menos mais três pessoas no assalto, em um depoimento vago, mal sustentado, sem álibis e sem a menor credibilidade,Vagner nega tanto sua participação no duplo homicídio, quanto no roubo. E, mesmo sendo o suspeito número um do duplo homicídio, é liberado pela Polícia sem maiores complicações.
Se ele é o assassino, não é a Polícia de serra Azul e muito menos a de Salto que irá prendê-lo.
Vagner sai tranquilamente pela porta da frente da Delegacia e desaparece outra vez.

Dia 4 de outubro de 2006
A Polícia Civil de Salto conclui o inquérito referente ao duplo homicídio dos rapazes Vanderlei e Valdeci. O resultado não é nada bom.
Termina assim: “... a conclusão é que ele (Vanderlei) e seu amigo Valdeci, foram mortos por alguém que ele (Vanderlei) conhecia e era certamente do seu círculo de amigos, como sempre foi muito discreto a esse respeito, ficou praticamente impossível de se descobrir a autoria desse grave delito, até porque, se esse raciocínio estiver correto, o Vanderlei levou com ele o segredo que poderia identificar o autor e esclarecer o motivo de sua morte, bem como a de seu amigo Valdeci. Posto isto, exauridas as possibilidades de se chegar ao autor...”
Em uma cidade que está ficando famosa por suas meninas estupradas e apedrejadas, meninos desaparecidos, crianças degoladas e queimadas, domésticas mortas a pauladas e jovens executados a todo momento, dois homicídios a mais, ou a menos, não deve fazer diferença nas estatísticas criminais.
Se fizesse, o caso brutal, covarde e hediondo desses dois rapazes que nada fizeram para merecer um fim tão trágico, não estaria com o inquérito arquivado, amarelando, ou melhor, apodrecendo e sendo comido pelas traças em alguma gaveta.

O ASSASSINATO CRUEL E COVARDE DE WILSON CLOVIS


Manhã de quinta-feira, 6 de janeiro de 1994.
Em sua casa, localizada na avenida Princesa Isabel, no Jardim Santa Cruz, o jovem Wilson Clovis Mineiro Matos, de 19 anos, avisa sua mãe, dona Maria Eli de Carvalho, que está indo trabalhar na casa de um amigo, localizada no Jardim Donalísio.
Mulher batalhadora e muito honesta, dona Eli criou e educou bem todos os filhos. E tem orgulho deles. Wilson explica para a mãe que combinou de fazer alguns serviços de pintura e marcenaria na casa do amigo e por isso, vai dormir lá naquela noite e provavelmente na outra.
Ele é um bom rapaz, não dá trabalho, não dá dor de cabeça. É muito amado por sua mãe e por toda família. Sua morte vai despedaçar a família, causando um profundo sofrimento.
Feliz e de bem com a vida, como sempre está, Wilson sai de casa nessa manhã, sem nunca passar por sua cabeça, que esta é a última vez na vida que está vendo o sorriso de sua mãe.
Em menos de 48 horas ele vai estar morto.

NOITE DE SEXTA-FEIRA
O irmão de Wilson, o jovem Gilson Roberto de Matos, está curtindo uma balada no Clube dos Trabalhadores, no Centro da cidade. Dando uma volta no clube ele avista o irmão. Os dois se cumprimentam. Wilson diz apenas que está dormindo na casa do amigo, que está junto com ele. É o rapaz da casa onde está realizando o trabalho, e pede que o irmão avise a mãe para não ficar preocupada. Depois de dizer isso, ele se mistura com as outras pessoas no cube e vai curtir sua balada.
É a última vez que Gilson vê o irmão com vida. A próxima vez que tiver notícias dele, o rapaz já estará morto.
A madrugada avança, Wilson dança um pouco, conversa com os amigos, paquera algumas garotas. Bem mais tarde, ele e o amigo decidem sair do Clube dos Trabalhadores para dar um pulinho até o popular Forró da Ponte, localizado ali perto, no bairro Estação.
A fama do local não é das melhores. Muitas brigas, muita bebedeira, muitos incidentes, e é claro, muita violência. Por ficar ao lado do Rio Jundiaí, é comum que muitas brigas iniciadas dentro da casa, terminem com as vítimas sendo jogadas covardemente dentro desse rio. E é de um crime terrível desses, que Wilson será vítima. Mas diferente das brigas frequentes, onde as vítimas escapam com apenas alguns ferimentos e escoriações, o jovem não terá tanta sorte.

FALTA POUCO PARA O CRIME
A noite de sexta já terminou faz tempo e já avançou pela madrugada de sábado, que por sua vez, está quase terminando.
O que aconteceu realmente, ninguém sabe ao certo. Dizem que foi um incidente qualquer, uma discussão banal causada por um motivo qualquer.
Várias pessoas presenciam Wilson discutindo com outro rapaz. Os amigos de ambas as partes, tentam apaziguar a confusão. Pedem pra deixar disso, deixar daquilo e daquilo outro. São todos conhecidos, todo mundo está ali para se divertir, não para brigar. Mas os conselhos são ignorados. A discussão progride e toma proporções que serão desastrosas em breve. Por algum tempo, aparentemente a confusão acaba. Mas só aparentemente. A maldade está no ar. Planos sinistros de violência pura, passam pelas cabeças de certos indivíduos ali presentes. Surras praticadas com extrema covardia, com vários indivíduos, que nada tem a ver com a confusão original, espancando um só, são frequentes nesses tipos de estabelecimento. Principalmente no Forró da Ponte, o “risca faca”, como muitos dizem. E é isso que estão reservando para o jovem, uma surra covarde. Dentro da casa noturna, ele já desconfia, pressente o perigo, já sabe o que o aguarda lá fora.
O forró finalmente termina. É agora que o crime vai ocorrer.

REQUINTES DE CRUELDADE
O rapaz que estava discutindo com Wilson lá dentro, não está mais sozinho. Vários camaradas estão com ele lá fora. Nenhum deles tem absolutamente nada a ver com a briga dos dois. Mas no embalo, na “camaradagem”, vão ser cúmplices se um brutal assassinato, que em hipótese alguma precisa ocorrer. Wilson não é bandido, é trabalhador, tem família, sonhos, planos, uma vida inteira pela frente. Não merece esse destino. Não precisa morrer desse jeito. Por uma discussão banal, gratuita. Mas os olhos que o espreitam, expressando pura maldade não estão nem aí pra isso. Como verdadeiros vampiros, só querem sangue.
Ao ver-se cercado por vários indivíduos, Wilson tenta fugir, sabe que está em desvantagem. Se fosse um só, apenas o rapaz com quem discutiu, ele poderia lutar, poderia enfrentá-lo, quem sabe até mesmo vencê-lo, mas a desvantagem numérica é muito grande. Um contra um monte. Ninguém teria chance em seu lugar. São muitos contra um. Muita covardia. Extrema covardia.
O que acontece a seguir, só pode realmente ser explicado pelos matadores.
Alguns dizem que para fugir dos agressores, Wilson pulou no rio. Outros dizem que ele foi jogado a força. Ninguém sabe ao certo. Ou se sabe, não fala.
Seja como for, assim que o jovem cai na água, já sofrendo um ou outro ferimento pela queda, os agressores decidem encerrar a noite violenta com chave de ouro. O que inicialmente seria uma surra, começa a se transformar em um linchamento. Munidos de pedras, tijolos e até cacos de telhas, os agressores, que até então eram apenas moleques brigões, se tornam verdadeiros assassinos sanguinários.
Wilson começa a ser apedrejado dentro da água. Sem ter a menor chance de se defender. Uma das pedras atinge sua cabeça. Outra a testa, a boca, e por aí vai. Os assassinos se excitam com a violência e cada vez mais implacáveis, mais furiosos, atacam o rapaz. E assim, Wilson finalmente afunda no rio, para não emergir mais. Nunca mais.
Satisfeitos com o crime que acabaram de praticar, aqueles meninos, que agora são homens assassinos, finalmente vão embora do local, orgulhosos de sua obra que vai fazer uma mãe chorar para sempre. Não pensam que poderia ser a mãe deles no lugar. Não, realmente não pensam. Apenas deixam o local sem olhar para trás.

A TRISTE MANHÃ DE SÁBADO
O amigo de Wilson, que estava com ele no clube, vai até a casa do jovem dar a trágica notícia para a mãe dele. Todos os detalhes são contados. Dona Eli não quer acreditar na história. Quer crer que tudo é mentira, que o filho está bem e que a qualquer momento vai retornar pra casa. Mas ele não vai voltar. Não, não vai. Outras pessoas começam a chegar na casa e repetir a mesma história; “mataram o Wilson no rio da Estação, dona Eli”. Agora ela realmente acredita. Infelizmente precisa acreditar. São muitos depoimentos, muitas afirmações.
Desesperada, a mãe procura a polícia, em busca de informações. Mas já sente em seu íntimo que ele está realmente morto. “Se ele tivesse conseguido fugir, já teria voltado pra casa ou avisado de alguma forma que está bem”, conta a mãe em prantos para um jornal que a procura. Ela passa vários dias em desespero sem ter notícias do filho. Mas a trágica confirmação não demora a chegar.

UMA SEMANA DEPOIS
Na cidade de Anhembi, próxima de Itapetininga, populares avistam um cadáver boiando em uma represa.
O Resgate do Corpo de Bombeiros é acionado.
O cadáver é encaminhado ao Instituto Médico Legal de Botucatu, para os exames periciais. E é neste local, que a vítima acaba sendo identificada como sendo o jovem Wilson Clovis Mineiro Matos. O rapaz que desapareceu no rio de Salto, há uma semana.
A família é acionada e identifica o corpo.
A aflição que tomava conta da família, se transforma em desespero. Mas pelo menos, agora eles podem enterrar o filho, deixar que ele finalmente descanse em paz, e descansarem também. Se nunca encontrassem o corpo seria pior, passariam a vida toda aflitos, como tantas famílias que sabem que o filho morreu,mas não querem acreditar, e ficam alimentando a vazia esperança, que um dia ele entre pela porta da frente e diga que está tudo bem. Mas agora acabou. Realmente acabou.
A Polícia instaura inquérito para apurar o caso. O nome do suspeito principal de ter começado a briga, é divulgado até mesmo nos jornais regionais. Todo mundo sabe quem ele é. Mas na hora das confirmações no papel, mesmo tendo dezenas de testemunhas do crime, ninguém viu nada, ninguém sabe nada, ninguém quer se envolver, como sempre.
O caso termina bastante parecido com outros assassinatos locais. Sem punições para os envolvidos.

16 ANOS DEPOIS
Hoje, uma década e meia após o horrendo assassinato, a maioria daqueles jovens envolvidos na morte de Wilson, se não estiverem presos por outros crimes ou mortos, estão casados, são pais de famílias exemplares, inclusive com filhos adolescentes. E, com toda certeza, ao verem este jornal nas bancas, foram correndo comprar um exemplar, temendo em desespero que seus nomes fossem mencionados, para vergonha de seus filhos, esposas e outros familiares, que talvez não saibam do crime que praticaram.
Então, fica a pergunta, para você assassino, que ajudou matar um garoto indefeso, sem a menor possibilidade de defesa: você escapou do tribunal dos homens, da Justiça, mas conseguiu escapar do tribunal da sua consciência? O que sente a noite quando fecha os olhos para dormir e vê o rosto desesperado de Wilson se afogando no rio e pedindo socorro, enquanto você, bêbado, drogado, alterado, atirava pedras e ria?
Você não deve ser uma pessoa feliz!
Não, com certeza não deve.

AMOR À QUEIMA ROUPA

Manhã de terça-feira. 25 de abril de 1995.
Faltam poucos minutos para às 11h30, a hora em que o crime vai ocorrer.
O empresário Antonio Francisco Delegá, chega na casa de sua ex-mulher, Dolores Valdete Alves Voss. A residência está localizada em uma rua tranquila do bairro Vila Flora. Antonio tem 41 anos. Dolores 46. Os dois são pessoas boas, queridas. Isso vai fazer com que a tragédia seja ainda mais dolorosa para os familiares e amigos.
Dentro da residência, estão apenas Dolores e sua empregada Deuzélia Rodrigues dos Santos. A empregada será a única pessoa a sair viva da casa.
Sem que as duas mulheres suspeitem, Antonio, que acaba de chegar, trás consigo uma arma carregada. É uma pistola semiautomática calibre 7.65, da Taurus. A arma é precisa, fulminante, ideal para fazer aquilo para o qual foi desenvolvida... matar pessoas.
O homem está visivelmente transtornado. Ele toca a campainha, e assim que a porta se abre, entra na casa.
A discussão entre ele e a ex, começa imediatamente após sua entrada. Está muito nervoso.
Os motivos do crime ninguém sabe ao certo. Ciúmes? Revolta com o término da relação? Vingança? Ninguém nunca vai saber. As únicas pessoas que sabem exatamente o motivo da briga que vai culminar em tragédia, vão estar mortas antes do horário do almoço.
Bastante amedrontada, Dolores manda a empregada sair pra rua buscar socorro, diz que Antonio quer matá-la. Assustada, a empregada obedece. Deixa a patroa na casa e sai em busca de ajuda. Mas a ajuda nunca virá a tempo. E esta, é a última vez que a empregada vê sua patroa com vida.
São exatamente 11h30. Assim que pisa na rua, a empregada ouve os tiros.
Ela se apavora. Antes mesmo de ver a cena, já presume o que ocorreu. Deuzélia chega desesperada até a casa do vizinho mais próximo e pede ajuda. Chama a polícia.
A polícia chega muito rápido. Mas o muito rápido, já é tarde demais para as duas pessoas na casa.
Assim que entram no imóvel, os policiais se deparam com a cena estarrecedora em um dos quartos.
De um lado, está Dolores, morta a tiros. Do outro, Antonio, morto com um tiro no ouvido. Matou a ex-mulher e se suicidou em seguida. Crime passional, praticado sob forte emoção.
Pelo fato de não haver mais ninguém na casa, que testemunhou o crime, o delegado Armando de Oliveira Costa Filho, já adianta que dificilmente surgirá novas informações sobre o caso, já que todos os envolvidos estão mortos.
O que se passou na cabeça de Antonio naquele dia, naquele momento, ninguém nunca saberá. O fato dele ter levado a arma, deixou a forte suspeita de que ele já havia premeditado tanto o assassinato, como possivelmente seu próprio suicídio. Mas os motivos, para tais atitudes, somente ele poderia responder.
As duas mortes foram realmente lamentáveis, e com toda certeza são sentidas até hoje pelos entes queridos, que jamais irão se esquecer dessas duas pessoas que um dia se amaram, dividiram alegrias e tristezas, viveram juntos e fatalmente... morreram juntos.
Um ano antes desse caso, um homem de 27 anos, estrangulou sua esposa de 23 anos até a morte, cavou um buraco no quinta da casa, enterrou o cadáver e logo depois tentou se suicidar por enforcamento. Ao ser preso, ele alegou que não se lembrava de nada. Mas essa já é outra história para ser contada em outra edição de Os Crimes que Abalaram Salto.

MASSACRE NA CADEIA DE SALTO


Sábado, 14 de novembro de 1996.
De todos os erros que José Isquierdo Herrero, cometeu em sua vida, o pior deles foi ter estuprado uma menina de apenas dois anos. Um bebezinho que ainda precisa do colo da mãe.
O estupro foi praticado há 15 dias, na cidade de Porto Feliz. Herrero aproveitou que a mãe da menina estava na igreja e abusou sexualmente dela. Foi um erro mortal. Para a criança o estupro vai ser traumático. Para ele, será fatal.
O crime revoltante foi descoberto no mesmo dia, assim como o acusado. Como consequência de seu ato, ele foi preso em flagrante em Porto Feliz e transferido para a Cadeia Pública de Salto.
Ele nunca foi bem vindo no local. Para os outros detentos, compostos por ladrões, assassinos e traficantes de drogas, a pena para estuprador é a morte. E eles irão deixar isso bem claro hoje.
Isaias Gonçalves Nunes, é outro presidiário que abusou dos erros que poderia ter cometido na vida. Há pouco tempo ele violentou um garotinho de 6 anos. O crime revoltou muita gente. Arrasou uma família e deixou a sociedade indignada. Mais indignados ainda, ficaram os presos da Cadeia Pública de Salto, pra onde Isaias foi trazido logo após sua prisão em flagrante ter sido decretada. Se um estuprador no local já é demais, dois é inaceitável.
E nem Deus, a menos que realmente queira, poderá impedir a fúria e revolta dos detentos, sedentos por vingança. E ao que tudo indica... Deus não irá se intrometer.
TENSÃO E MEDO NO AR
A Cadeia de Salto tem capacidade para abrigar 48 presos. Mas há 74 homens detidos no local. Reflexo direto das constantes superlotações que ocorrem há anos nesse presídio.
A maioria dos detentos é de Porto Feliz e São Roque. O restante é de Salto.
Vinte e um deles já estão condenados e tem direito a cumprir pena em regime semiaberto. Mas, por precariedade no sistema penitenciário, continuam trancafiados em regime fechado com outros presos ainda nem sequer julgados.
E, esse é o motivo principal da rebelião, que irá durar dez horas e resultar em dois horrendos assassinatos.
Nem todos os 74 detentos irão participar da rebelião, mas os que participam, são mais do que suficientes para executar o massacre, a carnificina que vem a seguir.
A noite de sexta pra sábado foi muito tensa. Ninguém dormia de madrugada. Todos sabiam o que iria ocorrer no dia seguinte.
Todos, principalmente Herrero e Isaias, que já estavam marcados para morrer.
A MATANÇA
O motim começa logo de manhã, assim que as celas são abertas para os presos tomarem o café matinal.
Armados com estiletes artesanais afiadíssimos, que podem rasgar um homem ao meio, os presos saem das celas, trocam olhares e dão o sinal. A Rebelião começou. Muita gritaria, colchões incendiados, grades arrancadas, lâmpadas destruídas, portas quase sendo estouradas a ponta pé e uma vontade de matar que não passa.
“Jack (estuprador) tem que morrer”, grita um dos líderes do motim mais exaltado. Os outros presos concordam em coro. E subitamente, a gritaria ensurdecedora dá lugar a um silêncio. Um silêncio mortal, repleto de ódio, revolta e desejo de vingança. É quando todos olham para os dois presos, Isaias e Herrero, até então trancados na cela de “seguro”, onde ficam os condenados por estupro. Mas, não existe nenhum local seguro em uma cadeia, durante uma rebelião.
Dezenas de mãos, com extrema violência e ferramentas improvisadas estouram o cadeado da cela onde os dois prisioneiros estão detidos. Ambos são arrancados pra fora tomando chutes na barriga, socos na cara e levando todos os nomes que se possa imaginar.
Arrastados até o meio do pátio, Herrero e Isaias gritam por socorro, imploram pelo amor de Deus e por todos os santos que já ouviram falar. Apelam pela ajuda dos guardas, dos próprios detentos que não participam do massacre e até das mães, que jamais irão ouvir os gritos desesperados dos filhos, sendo massacrados sem piedade. Mas a ajuda nunca virá. O mesmo terror que um dia infligiram em crianças inocentes, agora estão sentindo.
Caídos no meio do pátio, aterrorizados como os inocentes que estupraram, os dois homens sofrem todo tipo de violência possível. Espancados a pontapés, cortados com navalhas de barbear, apunhalados por estiletes e massacrados com barras de ferros, os dois homens são brutalizados até não aguentar mais. Durante toda a tortura, cada um dos detentos vai desferindo chutes na cabeça dos dois condenados à morte.
Quando os presos finalmente terminam de praticar sua justiça, só restam dois cadáveres ensanguentados no pátio, totalmente desfigurados, irreconhecíveis.
Decidido a fechar o massacre com chave de ouro, um dos detentos, armado com um facão surgido só Deus sabe lá de onde, decepa a cabeça de José Herreno e a faz rolar pelo pátio. Um outro detento, dominado pela adrenalina do momento, desfere um chute na cabeça, que jorrando sangue do pescoço vai parar nos pés de outro preso. E assim se inicia uma mórbida partida de futebol, onde a bola é uma cabeça humana, que vai passando de um pé para outro.
O motim só termina dez horas depois de iniciado, quando o juiz corregedor Jaime Silva Trindade, chega pessoalmente na cadeia e promete fazer a transferência exigida pelos detentos.
E a cabeça decepada do estuprador?
A cabeça? Ela estava presa na grade da guarita, trepassada de baixo pra cima, com o sangue pingando no sangue pingando no chão, fazendo uma enorme possa vermelha.
Aquilo era um recado, um aviso, uma sinistra mensagem, que, embora jamais tivesse sido escrita com letras, tinha um significado óbvio, evidente para os detentos.
Aquela cabeça assustadora, que passou horas pingando sangue dentro do Pavilhão da Delegacia Central, queria expressar uma frase, uma frase mórbida, composta por apenas quatro palavras. Quatro palavras sinistras, aterradoras e fatais que segundo os detentos, queria dizer... “ESTUPRADOR TEM QUE MORRER”.