QUEM MATOU ELAINE CRISTINA?
Sexta-feira, 27 de outubro de 2006.
São 6 horas da manhã.
A jovem Elaine Cristina da Silva, acorda em
sua casa localizada na Rua Lençóis Paulista, no Bairro Cidade Nova.
Seus dois filhos, um menino de cinco anos e
uma menina de três, ainda estão dormindo.
Elaine tem 25 anos, é uma garota bonita,
alegre, está sempre sorrindo e de bem com a vida. Mora com seus pais, gente
simples e honesta, que lutou para criar os filhos com dignidade.
Elaine é solteira, mas tem um namorado, um rapaz
com quem está há mais de dois anos.
Os pais não aprovam esse relacionamento. O
namorado em questão é um presidiário, que está detido há um ano e quatro meses
no CDP de Sorocaba. Dizem que é por tentativa de homicídio. Ele não é o pai do
casal de filhos da jovem. Esses são de um relacionamento anterior. Mas, as
frequentes visitas que a jovem faz ao rapaz, no Centro de Detenção Provisória
de Sorocaba, resultaram em outra gravidez. Elaine espera um bebê. A gestação já
está em três meses. Pode ser menino. Pode ser menina. Ninguém sabe. Ninguém
nunca vai saber.
Já são quase 7 horas. O menino está acordado,
lavou o rosto, trocou de roupas e agora toma o café da manhã. A jovem está
ansiosa, como sempre fica nos dias que vai visitar o namorado no presídio.
Elaine sai de casa acompanhada do menino e o
leva até o ponto de ônibus, onde de lá, ele será levado para a escolinha. O
menino se despede da mãe, sem sequer imaginar, que esta será a última vez que
ele a verá em sua vida. A menina ficou em casa dormindo. Nunca vai poder se
despedir da mãe, que jamais voltará.
Do ponto de ônibus, Elaine não retorna mais
pra casa. Ela vai direto para o presídio de Sorocaba. Não pega ônibus. Vai a
pé. Essa é uma das rotinas mais perigosas e mortais da jovem. Todos que a
conhecem no bairro, sabem que nos dias de visita ao CDP, ela vai sempre a pé e
na volta pega carona na rodovia. Na maioria das vezes, com desconhecidos.
Elaine costuma descer pelo barranco que dá acesso a Rodovia do Açúcar, pega a
pista em direção ao Posto de Pedágio e vai na caminhada até chegar no bairro
Aparecidinha, no município de Sorocaba, onde está localizado o presídio.
São exatamente 7h30 da manhã. A jovem já
colocou seu filho no ônibus e pegou a estrada para ver o namorado.
E essa, é a última vez que a jovem é vista
com vida.
O MISTERIOSO DESAPARECIMENTO
Manhã do dia seguinte.
A noite foi tensa na casa de Elaine.
Ninguém dormiu bem.
O pai, a mãe e os irmãos estão muito
preocupados.
A filha saiu no dia anterior e não mais
retornou pra casa.
Aquela sensação de que algo ruim possa ter
acontecido, passa na mente de todos.
O pai, junto com uma cunhada de Elaine,
decidem ir até o CDP, para saber a que horas a filha esteve lá no dia anterior.
No presídio, a notícia não é boa. A tensão
cresce ainda mais quando os policiais informam que Elaine não esteve na
unidade, na sexta-feira.
A suspeita de que algo de ruim possa ter
acontecido aumenta ainda mais com essa revelação.
O pai começa a se lembrar de todos os
conselhos que ele e a mãe deram para a filha. Ele se lembra das conversas que
teve com ela, das perguntas que fazia, se ela estava metida com drogas ou
alguma coisa errada, e lembra-se dela sempre negar qualquer envolvimento com
esse tipo de coisa.
Na volta do CDP, o pai começa a refazer o
caminho que Elaine fazia, em busca de alguma pista, de algum vestígio que possa
ter sido deixado pela filha.
Um homem, residente em uma chácara nas
imediações do CDP, ao ser indagado pelo pai da jovem, diz se lembrar de ter
visto no dia anterior, uma jovem com as características de Elaine entrando em
um carro pequeno, que ele não sabe precisar a marca ou modelo. O carro teria
vidros insufilmados. O homem conta ainda, que, ao invés de seguir sentido
Sorocaba, o veículo deu meia volta, fazendo sentido contrário. Outra pessoa
indagada na rua, conta que viu a jovem por volta das 8h30 da manhã, caminhando
pela pista, mas sentido contrário a Sorocaba. Desesperado, o pai dá queixa do
desaparecimento na Polícia.
Os dias passam e Elaine não aparece. Os
filhos choram pela mãe. E os pais pela filha.
A família toda, principalmente a cunhada e o
pai, começam a vasculhar todas as matas no caminho que Elaine fazia. A saúde do
pai vai ficando debilitada. Ele sofre muito com o sumiço da filha. A mãe, que
sempre aconselhou a jovem positivamente, também sofre. A paz acaba naquela
casa.
Todos os dias, no final da tarde, o pai de
Elaine senta na frente da casa e fica olhando para os lados, distante, perdido,
esperando que a filha volte. Mas ela não vai voltar. Nunca mais.
A irmã gêmea de Elaine começa a sonhar com
ela. Nos sonhos, a jovem aparece com um semblante triste e pergunta para a
família “quando é que vocês vão vir me buscar?”.
A família se desespera cada vez mais.
Nas ruas, as pessoas comentam ter visto
Elaine num ônibus, num carro, num ponto de ônibus, com um amigo, com uma amiga,
sozinha, acompanhada, mas é tudo mentira, é tudo invenção. A única pessoa que
realmente viu Elaine e sabe onde ela está é o assassino que a matou.
UM
ANO DEPOIS
Sorocaba, 30 de setembro de 2007.
Uma ligação anônima avisa a Polícia que tem
uma ossada humana no meio de pés de eucaliptos, atrás do CDP. O local é coberto
por um espesso matagal, que mal dava para entrar, mas recentemente, colocaram
fogo na mata. E foi então que a ossada ficou visível.
A Polícia Militar e Civil chegam ao local.
A ossada é levada para o Núcleo de Perícias
Médicas de Sorocaba. Os peritos descobrem que se trata de uma garota. Sabendo
do desaparecimento de Elaine naquela região, um ano atrás, os policiais ligam
para o irmão da vítima.
A família vai até o IML. Os ossos estão
bastante queimados, devido ao incêndio que ocorreu na mata, mas um chinelo que
a vítima usa, não deixa dúvidas. É Elaine. A irmã gêmea dela se submete ao
teste de DNA para ter a confirmação. O exame vai demorar alguns meses para
sair, mas todos já sabem o resultado.
O pai de Elaine, que durante mais de um ano
procurou a filha exaustivamente, está cansado, sua saúde debilitada, o desgosto
é profundo. Ele tinha esperanças de ver a filha entrando com vida pela porta a
qualquer momento. Mas, agora ele sabe que ela está morta. O exame vai demorar
cinco meses para sair. Mas o pai nunca vai ver o resultado. Ele morre antes.
Mas no fundo, já sabe o resultado. Um pai sempre sabe.
É positivo.
O
SEPULTAMENTO
Terça-feira, 29 de julho de 2008.
São 15h30.
Alguns membros da família de Elaine estão
reunidos no Cemitério Municipal de Itu.
Os restos mortais da jovem finalmente serão
enterrados.
Não há discursos, cerimônias, nada. Apenas um
enterro simples. Muito já foi dito, tudo que era possível já foi feito.
Só resta agora sepultar o corpo da jovem,
para que ela descanse em paz para sempre.
Nas ruas dizem muita coisa sobre o crime. Há
muitos rumores e especulações. Alguns dizem que poderia ter sido algum tipo de
vingança, outros dizem que ela pode ter sido morta por que presenciou algo que
não devia, ou talvez até vítima de algum maníaco sexual. Segundo o IML, a
vítima estava com o crânio quebrado, o que indica que ela foi morta
possivelmente por uma pancada na cabeça.
Morta talvez por gente conhecida, talvez por
gente estranha. Quem sabe morta por inimigos... ou até mesmo por “amigos”.
No submundo, alguns dizem que quem matou
Elaine também já está morto.
Pode ser verdade, pode ser mentira.
Hoje, vários anos após esse crime cruel, praticado
com requintes de crueldade, a família e a sociedade ituana ainda aguardam uma
satisfação desse caso sinistro.
Quem matou Elaine?