segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A MORTE DO "IRMÃO ITU"

Cercado em sua chácara por policiais civis, traficante armado com duas pistolas semi-automáticas lutou até o fim, antes de tombar morto
Luveci Vieira Lima
Pistolas Ponto 40 e 9 Milímetros e, pacotes com cocaína
Centenas de pedras de crack

Panela com um kilo de crack Salto de Pirapora.
Manhã de quarta-feira. 13 de Fevereiro de 2008.
Policiais civis de Itu e Sorocaba cercam uma chácara localizada no número 17, da rua dos Florianos, no bairro Quintais de Pirapora 1.
O dono da chácara é um homem chamado Luveci Vieira Lima. Ele tem 34 anos e dorme com um olho aberto e outro fechado.
A chácara é uma mini-fortaleza, com chapas de ferro bem reforçadas nas portas. A idéia é impedir que os inimigos entrem ali.
O principal inimigo de Luveci é a Polícia Civil, que está em seu encalço há meses. Mais precisamente há quatro meses. Luveci sabe disso.
Mas ele ainda não sabe que sua casa vai cair hoje. Ele nem imagina que está prestes a morrer.
Mais conhecido como “Irmão Itu”, Luveci é apontado pela Polícia Civil, como um dos líderes do PCC em Itu. É ele quem comanda o tráfico de drogas na cidade, principalmente na região do Cidade Nova.
Luveci está atravessado com a Polícia. Ele sabe que estão na cola dele. Sabe que querem prendê-lo a qualquer custo.
Mas ele não pretende se entregar. Não tem planos de voltar para a cadeia, onde já cumpriu pena por roubo e formação de quadrilha.
Homem de atitude, Luveci matou um desafeto com sete tiros em julho de 2007. Na ocasião, ele e um comparsa entraram dentro da casa de um rapaz conhecido como Xandi, residente no Cidade Nova, e o matou na frente da própria mãe da vítima.
Quatro tiros na cabeça, um na axila direita, um no peito e um na mão esquerda, foi desta forma brutal que Luveci matou seu desafeto. A mãe da vítima implorou para que ele não matasse o filho dela, que também traficava drogas. Mas ele atirou assim mesmo. Sem dó, sem perdão.
Hoje, sete meses depois, Luveci vai morrer de forma bastante parecida, fuzilado por policiais civis.
Mas ele ainda não sabe.
Dentro da casa, Luveci guarda 9 kilos de cocaína, 319 pedras de crack e uma panela com cerca de 1kilo de crack, que ele mesmo está preparando.
Duas pistolas utilizadas pelas Forças Armadas, sendo elas uma Ponto 40 e uma 9 Milímetros também estão em poder de Luveci.
Ele dorme com as armas nas mãos. Um olho aberto e outro fechado. Ele é esperto, desconfiado. Está sempre atento.
Lá fora, policiais civis da DISE de Sorocaba e do DENARC de São Paulo, chefiados por policiais do SIG de Itu, se preparam para arrombar a porta e pegar o traficante de surpresa.
São quase 6h da manhã. A Polícia tem um mandado de busca e apreensão para entrar na casa e prender Luveci.
Mas, os policiais sabem que ele não vai abrir a porta em hipótese alguma.
Já ouviram através de escutas telefônicas que o traficante sabe que a Polícia está atrás dele, e não pretende se entregar.
Foi para se esconder da Polícia, que Luveci se afastou da região do Cidade Nova e se refugiou em Salto de Pirapora.
Mas isso não importa mais, os policiais já sabem seu endereço e estão prontos para invadir a casa.
O investigador que comanda a operação dá o sinal. Os policiais se espalham, cada um vai para um lado, enquanto outros tentam arrombar a porta e pegar Luveci de surpresa.
Dentro da casa, o traficante pressente o perigo. Mesmo sem ver o que está acontecendo lá fora, ele já sabe.
Os policiais vieram pegá-lo. As duas pistolas, uma preta e outra cromada surgem nas mãos de Luveci. As armas estão carregadas. A Ponto 40 semi-automática tem 12 balas no pente, a 9 milímetros tem 15. No total, o traficante tem 27 balas, munição mais do que suficiente para matar os seis policiais lá fora. Isso se conseguir acertá-los.
Não vai ser fácil.
Mas Luveci é homem de atitude. Está sozinho na casa, mas não indefeso.
Ele está pronto para matar ou morrer por seu negócio.
Se tiver que matar policiais para escapar, ele vai matar. Mas se tiver que morrer, ele não vai implorar, não será morto de joelhos, será de pé.
Os policiais, também armados com pistolas de grosso calibre não pretendem matar o traficante. Mas, também não pretendem serem mortos por ele.
No exato momento em que a Polícia dá o primeiro golpe para arrombar a porta, um tiro de pistola estilhaça um dos vidros da casa e passa raspando em um dos policiais.
Os estilhaços de vidro atingem a mão de um dos investigadores.
A Polícia percebe que o elemento surpresa acabou.
Mais tiros vindos de dentro da casa estilhaçam mais vidros.
Policiais estouram portas e janelas e entram na casa.
Escondido em um canto da casa, Luveci luta sozinho contra os policiais. Balas voam por toda a casa. Vidros são estourados, portas são perfuradas, balas ficam encrustradas nas paredes dos cômodos.
Policiais gritam para Luveci largar as armas. Ele ignora. Continua atirando. Os policiais revidam a altura. Bala para todo lado.
Luveci em clara desvantagem leva um tiro, dois, três, quatro, cinco vários tiros. Ele tomba em um dos cômodos, todo ensangüentado. O tiroteio cessa. O interior da casa está todo destruído por tiros.
Apesar das várias perfurações, Luveci, caído no chão com suas duas pistolas, ainda respira. Ele não diz uma única palavra. Apenas respira e encara os policiais com total frieza. Não pede socorro, não pede ajuda, não pede nada.
Apenas respira, enquanto o sangue se esvai do seu corpo e começa a se espalhar pelo piso bege, que em pouco tempo fica vermelho.
Os policiais socorrem Luveci até a Santa Casa de Salto de Pirapora.
Mas não faz diferença alguma, Luveci não resiste aos ferimentos e morre.
A operação finalmente termina.
Quatro meses de investigação terminam com a morte do fornecedor da droga e da apreensão de toda a mercadoria que estava sem seu poder.
Enquanto a Polícia volta para a Delegacia pensando no extenso relatório que precisa apresentar, o corpo de Luveci segue para o IML, a notícia da morte se espalha através da mídia, e em algum lugar, outros criminosos já começam a se preparar para ocupar o posto deixado por Luveci.
Terminou uma batalha, mas a guerra continua. (RC)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A CHACINA DA VILA MARTINS

A casa dos horrores, onde o crime ocorreu, pingava sangue por todos os lados
Fotos: Reginaldo Carlota










O crime ocorreu na primeira semana de março de 2007.
Era quase impossível entrar na casa sem se sujar de sangue.
O barraco velho de alvenaria, sem a menor segurança, parecia um matadouro.
Havia sangue escorrendo da porta da geladeira, do fogão, do velho sofá, das paredes, e de todos os trapos de pano que se encontravam a mostra.
Pisar no chão dos cômodos apertados sem sujar a sola do sapato de sangue, era tão difícil, quanto acreditar que a tragédia realmente havia acontecido.
A cena seria digna de um filme de horror, se não fosse a mais aterradora realidade.
Sônia Maria de Carvalho, uma mulher de 40 anos, estava morta de joelhos, atrás da porta da cozinha. Foi esfaqueada até morrer.
Ela morava no barraco com dois primos, uma amiga, filhos e netos.
Iliane Comin, de 26 anos, prima de Sônia, estava caída ensangüentada no chão da cozinha. Foi morta a tiros e facadas.
Elisângela Aparecida Nunes, de 28 anos, amiga de Sônia estava agonizando no banheiro. Levou um tiro no rosto e várias facadas. Foi socorrida as pressas para o hospital. Conseguiu sobreviver apesar dos gravíssimos ferimentos.
Marcos Ferreira Pinto, de 26 anos, também foi esfaqueado várias vezes no abdômen. Conseguiu sobreviver depois de ser socorrido até o hospital.
Um adolescente de 14 anos, filho de Sônia, só não morreu porque conseguiu se esconder no momento do crime, ou porque os matadores não se importaram com ele.
As três crianças que também moravam no barraco estavam dormindo quando a chacina começou. Foram poupadas pelos assassinos.
O crime deu repercussão em todo o Estado, atraindo a atenção da grande imprensa, que reprisou o caso à exaustão durante a semana inteira.
De acordo com informações relatadas no Boletim de Ocorrência, o motivo do crime seria uma dívida de apenas 40 reais, que Marcos teria com um elemento conhecido da família vítima do crime.
Esse elemento, teria um envolvimento supostamente amoroso com Sônia e na data do crime, teria chegado de madrugada, por volta das 2h, no barraco onde as vítimas residem, localizado na Rua Nelson de Souza Campos, na Vila Martins, e pedido para entrar.
Ao reconhecer a voz do elemento, Sônia teria dito para ele ir embora, mas o sujeito, que estava em companhia de outros cinco indivíduos, teria invadido a casa e iniciado a matança, fugindo logo em seguida.
Todas essas informações preliminares foram relatas no B.O., por testemunhas que “disseram” ter ouvido isso ou aquilo, e não pelas vítimas que sobreviveram.
Dois dias depois da chacina, a Polícia Civil de Itu, apoiada pelo serviço velado da Polícia Militar, prendeu o principal suspeito de comandar a chacina da Vila Martins.
O suspeito conhecido como “Bruno”, de 20 anos, confessou ter cometido o crime em companhia de outros dois indivíduos.
Durante o interrogatório Bruno contou para o delegado doutor José Moreira Barbosa Netto, que comandou as investigações, que cometeu o crime pelo fato de Sônia, uma das vítimas, estar “dando com a língua nos dentes”, sobre alguns de seus crimes anteriores.
Temendo ser “caguetado”, o rapaz foi até a casa de Sônia na madrugada de segunda, junto com dois comparsas e atacou as vitimas a tiros e facadas. O rapaz ainda declarou que não tinha nada contra as outras três pessoas que estavam na casa.
Elas só foram atacadas porque presenciaram o crime.
Estavam no local errado, no dia errado, e é claro... na hora errada.

CAÇADA IMPLACÁVEL



Faltavam poucos dias para o Natal de 1983.
Era uma madrugada qualquer da segunda semana de dezembro.
Dois caminhões carregados com toneladas de quilos de feijão transitavam pela Rodovia Marechal Rondon, sentido Jundiaí.
Havia acabado de passar da meia noite, quando um dos pneus de um dos caminhões estourou na altura da fazenda Cruz Alta.
O motorista parou para fazer a troca.
Seu companheiro, que estava no caminhão da frente, também parou para prestar auxilio.
Os dois homens estavam terminando a troca de pneu quando um Del Rey se aproximou.
O carro parou ao lado deles.
Quatro homens desceram. Todos armados.
Os dois caminhoneiros foram rendidos, junto com um ajudante que estava em um dos caminhões.
Os quatro homens, que se revelaram ladrões de carga, obrigaram os três trabalhadores a entrar no porta-malas do Del Rey, e os trancaram lá dentro.
Logo em seguida, tomaram posse dos dois caminhões e desapareceram, deixando o Del Rey com os homens trancados naquele local.
Depois de duas horas de sufoco e muita apreensão, as três vítimas conseguiram estourar o porta malas do carro com o pé e se libertaram.
Na pista, pediram carona e foram parar no plantão da Delegacia Central.
Imediatamente, os PMs Zacarias, Roberto, Leonel e Luiz Carlos, colocaram um dos motoristas na viatura e saíram na caçada aos assaltantes.
Patrulharam por um longo período pelas imediações onde o crime ocorreu, mas não encontram nem sinal dos ladrões.
Haviam desaparecido.
Os PMs já estavam dando por encerradas as buscas e estavam longe do local, quando receberam uma informação via rádio, de que próximo da Cruz Alta havia quatro suspeitos em um Fusca e uma Brasília.
Acreditando se tratar dos mesmos ladrões, que por algum motivo teriam retornado ao local do crime, os quatro PMs voltaram até a região da fazenda Cruz Alta.
No local, deram de cara com os dois veículos.
Havia quatro policiais e quatro suspeitos.
Todos estavam armados.
Prontos para matar.
Ou para morrer.
Os suspeitos sacaram primeiro.
Estavam munidos de revolveres calibre 38 e uma cartucheira.
Eram eles: Benedito, de 20 anos, sem residência fixa. José Antonio, de 22 anos, residente em Jundiaí, João de Jesus, de 28 anos, residente em Campo Limpo Paulista e Reginaldo , de 24 anos, também residente em Jundiaí.
Ao serem recebidos a tiros, os PMs revidaram.
Cada suspeito procurou uma trincheira, uma árvore, ou um lugar apropriado para se esconder durante o tiroteio.
A troca de tiros só durou alguns minutos, mas para quem estava no fogo cruzado pareceu uma eternidade.
Em um dado momento, João de Jesus cometeu um erro fatal.
Saiu de seu esconderijo para tentar achar uma posição melhor. Se encontrasse, talvez com muita sorte poderia matar um ou dois PMs.
Ele nunca conseguiu.
Não estava com sorte.
Ao sair de seu esconderijo, tornou-se um alvo fácil para os policiais.
Ele estava com um revólver engatilhado na mão direito.
Não teve tempo de atirar.
Levou um balaço no peito.
Cortesia de um dos PMs.
O tiro abriu um buraco em seu peito, estourando órgãos internos.
Caiu de costas no chão, com sangue saindo pela boca e peito.
Para João, o mundo havia acabado naquele instante.
Vendo o comparsa morto, os outros três suspeitos entram em pânico.
As histórias de que a Policia matava implacavelmente “quem levantasse a mão pra eles”, passou a povoar a mente dos bandidos.
Não queriam morrer.
Desesperados, se embrenharam na mata tentando uma fuga alucinada.
Mais quatro PMs, Giacomelli, Savassa, Tempesta e Domingues, chegaram no local e entraram na caçada.
Armados até os dentes, os oito policiais adentraram o matagal e vasculharam cada centímetro, até encontrar os três fugitivos.
Renderam o trio no meio do mato.
Os três estavam apavorados. Sozinhos em um matagal durante a madrugada, com oito PMs fortemente armados.
Sem testemunhas.
Sem ninguém para contar história.
Poderiam ser “zerados” ali mesmo se os policiais quisessem.
Mas, o pânico foi desnecessário.
Ao contrário da ROTA de São Paulo, que naquele época “matava primeiro e perguntava depois”, os PMs de Itu, se mostraram extremamente profissionais e controlados.
Capturam os três criminosos vivos, e os entregaram na Delegacia Central, sem nenhum ferimento.
Diante do delegado Alcides Geronutti, os criminosos contaram que haviam roubado o Fusca e a Brasília em Jundiaí, e estavam se preparando para “depená-los”, quando trombaram com os policiais.
Os quatro bandidos que haviam roubado os caminhões, não seriam presos naquela ocasião.
Já o outro quarteto, que por estar no local errado, na hora errada, não teve a mesma sorte.
Três ladrões passaram o Natal na cadeia. O quarto ladrão teve destino pior. Passou o Natal de 1983, onde ninguém gostaria de passar...
Na sepultura.