segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

CAÇADA IMPLACÁVEL



Faltavam poucos dias para o Natal de 1983.
Era uma madrugada qualquer da segunda semana de dezembro.
Dois caminhões carregados com toneladas de quilos de feijão transitavam pela Rodovia Marechal Rondon, sentido Jundiaí.
Havia acabado de passar da meia noite, quando um dos pneus de um dos caminhões estourou na altura da fazenda Cruz Alta.
O motorista parou para fazer a troca.
Seu companheiro, que estava no caminhão da frente, também parou para prestar auxilio.
Os dois homens estavam terminando a troca de pneu quando um Del Rey se aproximou.
O carro parou ao lado deles.
Quatro homens desceram. Todos armados.
Os dois caminhoneiros foram rendidos, junto com um ajudante que estava em um dos caminhões.
Os quatro homens, que se revelaram ladrões de carga, obrigaram os três trabalhadores a entrar no porta-malas do Del Rey, e os trancaram lá dentro.
Logo em seguida, tomaram posse dos dois caminhões e desapareceram, deixando o Del Rey com os homens trancados naquele local.
Depois de duas horas de sufoco e muita apreensão, as três vítimas conseguiram estourar o porta malas do carro com o pé e se libertaram.
Na pista, pediram carona e foram parar no plantão da Delegacia Central.
Imediatamente, os PMs Zacarias, Roberto, Leonel e Luiz Carlos, colocaram um dos motoristas na viatura e saíram na caçada aos assaltantes.
Patrulharam por um longo período pelas imediações onde o crime ocorreu, mas não encontram nem sinal dos ladrões.
Haviam desaparecido.
Os PMs já estavam dando por encerradas as buscas e estavam longe do local, quando receberam uma informação via rádio, de que próximo da Cruz Alta havia quatro suspeitos em um Fusca e uma Brasília.
Acreditando se tratar dos mesmos ladrões, que por algum motivo teriam retornado ao local do crime, os quatro PMs voltaram até a região da fazenda Cruz Alta.
No local, deram de cara com os dois veículos.
Havia quatro policiais e quatro suspeitos.
Todos estavam armados.
Prontos para matar.
Ou para morrer.
Os suspeitos sacaram primeiro.
Estavam munidos de revolveres calibre 38 e uma cartucheira.
Eram eles: Benedito, de 20 anos, sem residência fixa. José Antonio, de 22 anos, residente em Jundiaí, João de Jesus, de 28 anos, residente em Campo Limpo Paulista e Reginaldo , de 24 anos, também residente em Jundiaí.
Ao serem recebidos a tiros, os PMs revidaram.
Cada suspeito procurou uma trincheira, uma árvore, ou um lugar apropriado para se esconder durante o tiroteio.
A troca de tiros só durou alguns minutos, mas para quem estava no fogo cruzado pareceu uma eternidade.
Em um dado momento, João de Jesus cometeu um erro fatal.
Saiu de seu esconderijo para tentar achar uma posição melhor. Se encontrasse, talvez com muita sorte poderia matar um ou dois PMs.
Ele nunca conseguiu.
Não estava com sorte.
Ao sair de seu esconderijo, tornou-se um alvo fácil para os policiais.
Ele estava com um revólver engatilhado na mão direito.
Não teve tempo de atirar.
Levou um balaço no peito.
Cortesia de um dos PMs.
O tiro abriu um buraco em seu peito, estourando órgãos internos.
Caiu de costas no chão, com sangue saindo pela boca e peito.
Para João, o mundo havia acabado naquele instante.
Vendo o comparsa morto, os outros três suspeitos entram em pânico.
As histórias de que a Policia matava implacavelmente “quem levantasse a mão pra eles”, passou a povoar a mente dos bandidos.
Não queriam morrer.
Desesperados, se embrenharam na mata tentando uma fuga alucinada.
Mais quatro PMs, Giacomelli, Savassa, Tempesta e Domingues, chegaram no local e entraram na caçada.
Armados até os dentes, os oito policiais adentraram o matagal e vasculharam cada centímetro, até encontrar os três fugitivos.
Renderam o trio no meio do mato.
Os três estavam apavorados. Sozinhos em um matagal durante a madrugada, com oito PMs fortemente armados.
Sem testemunhas.
Sem ninguém para contar história.
Poderiam ser “zerados” ali mesmo se os policiais quisessem.
Mas, o pânico foi desnecessário.
Ao contrário da ROTA de São Paulo, que naquele época “matava primeiro e perguntava depois”, os PMs de Itu, se mostraram extremamente profissionais e controlados.
Capturam os três criminosos vivos, e os entregaram na Delegacia Central, sem nenhum ferimento.
Diante do delegado Alcides Geronutti, os criminosos contaram que haviam roubado o Fusca e a Brasília em Jundiaí, e estavam se preparando para “depená-los”, quando trombaram com os policiais.
Os quatro bandidos que haviam roubado os caminhões, não seriam presos naquela ocasião.
Já o outro quarteto, que por estar no local errado, na hora errada, não teve a mesma sorte.
Três ladrões passaram o Natal na cadeia. O quarto ladrão teve destino pior. Passou o Natal de 1983, onde ninguém gostaria de passar...
Na sepultura.

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