terça-feira, 11 de maio de 2010

O ASSASSINATO CRUEL E COVARDE DE WILSON CLOVIS


Manhã de quinta-feira, 6 de janeiro de 1994.
Em sua casa, localizada na avenida Princesa Isabel, no Jardim Santa Cruz, o jovem Wilson Clovis Mineiro Matos, de 19 anos, avisa sua mãe, dona Maria Eli de Carvalho, que está indo trabalhar na casa de um amigo, localizada no Jardim Donalísio.
Mulher batalhadora e muito honesta, dona Eli criou e educou bem todos os filhos. E tem orgulho deles. Wilson explica para a mãe que combinou de fazer alguns serviços de pintura e marcenaria na casa do amigo e por isso, vai dormir lá naquela noite e provavelmente na outra.
Ele é um bom rapaz, não dá trabalho, não dá dor de cabeça. É muito amado por sua mãe e por toda família. Sua morte vai despedaçar a família, causando um profundo sofrimento.
Feliz e de bem com a vida, como sempre está, Wilson sai de casa nessa manhã, sem nunca passar por sua cabeça, que esta é a última vez na vida que está vendo o sorriso de sua mãe.
Em menos de 48 horas ele vai estar morto.

NOITE DE SEXTA-FEIRA
O irmão de Wilson, o jovem Gilson Roberto de Matos, está curtindo uma balada no Clube dos Trabalhadores, no Centro da cidade. Dando uma volta no clube ele avista o irmão. Os dois se cumprimentam. Wilson diz apenas que está dormindo na casa do amigo, que está junto com ele. É o rapaz da casa onde está realizando o trabalho, e pede que o irmão avise a mãe para não ficar preocupada. Depois de dizer isso, ele se mistura com as outras pessoas no cube e vai curtir sua balada.
É a última vez que Gilson vê o irmão com vida. A próxima vez que tiver notícias dele, o rapaz já estará morto.
A madrugada avança, Wilson dança um pouco, conversa com os amigos, paquera algumas garotas. Bem mais tarde, ele e o amigo decidem sair do Clube dos Trabalhadores para dar um pulinho até o popular Forró da Ponte, localizado ali perto, no bairro Estação.
A fama do local não é das melhores. Muitas brigas, muita bebedeira, muitos incidentes, e é claro, muita violência. Por ficar ao lado do Rio Jundiaí, é comum que muitas brigas iniciadas dentro da casa, terminem com as vítimas sendo jogadas covardemente dentro desse rio. E é de um crime terrível desses, que Wilson será vítima. Mas diferente das brigas frequentes, onde as vítimas escapam com apenas alguns ferimentos e escoriações, o jovem não terá tanta sorte.

FALTA POUCO PARA O CRIME
A noite de sexta já terminou faz tempo e já avançou pela madrugada de sábado, que por sua vez, está quase terminando.
O que aconteceu realmente, ninguém sabe ao certo. Dizem que foi um incidente qualquer, uma discussão banal causada por um motivo qualquer.
Várias pessoas presenciam Wilson discutindo com outro rapaz. Os amigos de ambas as partes, tentam apaziguar a confusão. Pedem pra deixar disso, deixar daquilo e daquilo outro. São todos conhecidos, todo mundo está ali para se divertir, não para brigar. Mas os conselhos são ignorados. A discussão progride e toma proporções que serão desastrosas em breve. Por algum tempo, aparentemente a confusão acaba. Mas só aparentemente. A maldade está no ar. Planos sinistros de violência pura, passam pelas cabeças de certos indivíduos ali presentes. Surras praticadas com extrema covardia, com vários indivíduos, que nada tem a ver com a confusão original, espancando um só, são frequentes nesses tipos de estabelecimento. Principalmente no Forró da Ponte, o “risca faca”, como muitos dizem. E é isso que estão reservando para o jovem, uma surra covarde. Dentro da casa noturna, ele já desconfia, pressente o perigo, já sabe o que o aguarda lá fora.
O forró finalmente termina. É agora que o crime vai ocorrer.

REQUINTES DE CRUELDADE
O rapaz que estava discutindo com Wilson lá dentro, não está mais sozinho. Vários camaradas estão com ele lá fora. Nenhum deles tem absolutamente nada a ver com a briga dos dois. Mas no embalo, na “camaradagem”, vão ser cúmplices se um brutal assassinato, que em hipótese alguma precisa ocorrer. Wilson não é bandido, é trabalhador, tem família, sonhos, planos, uma vida inteira pela frente. Não merece esse destino. Não precisa morrer desse jeito. Por uma discussão banal, gratuita. Mas os olhos que o espreitam, expressando pura maldade não estão nem aí pra isso. Como verdadeiros vampiros, só querem sangue.
Ao ver-se cercado por vários indivíduos, Wilson tenta fugir, sabe que está em desvantagem. Se fosse um só, apenas o rapaz com quem discutiu, ele poderia lutar, poderia enfrentá-lo, quem sabe até mesmo vencê-lo, mas a desvantagem numérica é muito grande. Um contra um monte. Ninguém teria chance em seu lugar. São muitos contra um. Muita covardia. Extrema covardia.
O que acontece a seguir, só pode realmente ser explicado pelos matadores.
Alguns dizem que para fugir dos agressores, Wilson pulou no rio. Outros dizem que ele foi jogado a força. Ninguém sabe ao certo. Ou se sabe, não fala.
Seja como for, assim que o jovem cai na água, já sofrendo um ou outro ferimento pela queda, os agressores decidem encerrar a noite violenta com chave de ouro. O que inicialmente seria uma surra, começa a se transformar em um linchamento. Munidos de pedras, tijolos e até cacos de telhas, os agressores, que até então eram apenas moleques brigões, se tornam verdadeiros assassinos sanguinários.
Wilson começa a ser apedrejado dentro da água. Sem ter a menor chance de se defender. Uma das pedras atinge sua cabeça. Outra a testa, a boca, e por aí vai. Os assassinos se excitam com a violência e cada vez mais implacáveis, mais furiosos, atacam o rapaz. E assim, Wilson finalmente afunda no rio, para não emergir mais. Nunca mais.
Satisfeitos com o crime que acabaram de praticar, aqueles meninos, que agora são homens assassinos, finalmente vão embora do local, orgulhosos de sua obra que vai fazer uma mãe chorar para sempre. Não pensam que poderia ser a mãe deles no lugar. Não, realmente não pensam. Apenas deixam o local sem olhar para trás.

A TRISTE MANHÃ DE SÁBADO
O amigo de Wilson, que estava com ele no clube, vai até a casa do jovem dar a trágica notícia para a mãe dele. Todos os detalhes são contados. Dona Eli não quer acreditar na história. Quer crer que tudo é mentira, que o filho está bem e que a qualquer momento vai retornar pra casa. Mas ele não vai voltar. Não, não vai. Outras pessoas começam a chegar na casa e repetir a mesma história; “mataram o Wilson no rio da Estação, dona Eli”. Agora ela realmente acredita. Infelizmente precisa acreditar. São muitos depoimentos, muitas afirmações.
Desesperada, a mãe procura a polícia, em busca de informações. Mas já sente em seu íntimo que ele está realmente morto. “Se ele tivesse conseguido fugir, já teria voltado pra casa ou avisado de alguma forma que está bem”, conta a mãe em prantos para um jornal que a procura. Ela passa vários dias em desespero sem ter notícias do filho. Mas a trágica confirmação não demora a chegar.

UMA SEMANA DEPOIS
Na cidade de Anhembi, próxima de Itapetininga, populares avistam um cadáver boiando em uma represa.
O Resgate do Corpo de Bombeiros é acionado.
O cadáver é encaminhado ao Instituto Médico Legal de Botucatu, para os exames periciais. E é neste local, que a vítima acaba sendo identificada como sendo o jovem Wilson Clovis Mineiro Matos. O rapaz que desapareceu no rio de Salto, há uma semana.
A família é acionada e identifica o corpo.
A aflição que tomava conta da família, se transforma em desespero. Mas pelo menos, agora eles podem enterrar o filho, deixar que ele finalmente descanse em paz, e descansarem também. Se nunca encontrassem o corpo seria pior, passariam a vida toda aflitos, como tantas famílias que sabem que o filho morreu,mas não querem acreditar, e ficam alimentando a vazia esperança, que um dia ele entre pela porta da frente e diga que está tudo bem. Mas agora acabou. Realmente acabou.
A Polícia instaura inquérito para apurar o caso. O nome do suspeito principal de ter começado a briga, é divulgado até mesmo nos jornais regionais. Todo mundo sabe quem ele é. Mas na hora das confirmações no papel, mesmo tendo dezenas de testemunhas do crime, ninguém viu nada, ninguém sabe nada, ninguém quer se envolver, como sempre.
O caso termina bastante parecido com outros assassinatos locais. Sem punições para os envolvidos.

16 ANOS DEPOIS
Hoje, uma década e meia após o horrendo assassinato, a maioria daqueles jovens envolvidos na morte de Wilson, se não estiverem presos por outros crimes ou mortos, estão casados, são pais de famílias exemplares, inclusive com filhos adolescentes. E, com toda certeza, ao verem este jornal nas bancas, foram correndo comprar um exemplar, temendo em desespero que seus nomes fossem mencionados, para vergonha de seus filhos, esposas e outros familiares, que talvez não saibam do crime que praticaram.
Então, fica a pergunta, para você assassino, que ajudou matar um garoto indefeso, sem a menor possibilidade de defesa: você escapou do tribunal dos homens, da Justiça, mas conseguiu escapar do tribunal da sua consciência? O que sente a noite quando fecha os olhos para dormir e vê o rosto desesperado de Wilson se afogando no rio e pedindo socorro, enquanto você, bêbado, drogado, alterado, atirava pedras e ria?
Você não deve ser uma pessoa feliz!
Não, com certeza não deve.

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