terça-feira, 11 de maio de 2010

OS HORRENDOS ASSASSINATOS DE VANDERLEI E VALDECI

Noite do dia 29 de novembro de 2005.
Dois amigos conversam alegremente em uma residência do bairro Salto de São José.
Um deles é Valdeci Leal, rapaz bonito, de 36 anos. Com segundo grau completo, muito educado e dono de várias amizades, ele reside com a irmã mais velha no Salto de São José, desde que a mãe morreu há dez anos. É um bom rapaz, trabalhador, honesto, o tipo que não dá trabalho pra ninguém.
O outro rapaz tem o mesmo perfil. Ele é Vanderlei Dias de Oliveira, 35 anos. Tão discreto quanto o amigo, possui curso superior completo. É formado em administração de empresas. Mora sozinho em uma casa alugada do Jardim Santo Stefano. Tem um bom emprego e possui um automóvel bacana, um Corsa Sedan, cor prata.
O que os dois rapazes conversam, ninguém sabe ao certo, já que são muito discretos e não costumam dividir intimidades com a família e amigos.
Faltando 20 minutos para às nove da noite, Valdeci e Vanderlei saem de casa. Eles nunca mais irão voltar.

Dia 1 de dezembro
A irmã de Valdeci e um amigo de trabalho de Vanderlei, chamado Wilians, comparecem à Delegacia Central. São 12h e 15 minutos. Ambos estão registrando o desaparecimento dos dois rapazes. Um não retornou pra casa. O outro, não apareceu mais na empresa onde trabalha.
Wilians informa no boletim de ocorrência que, desde o dia 30, Vanderlei não aparece no trabalho. Por esse motivo ele foi até a casa do amigo, onde encontrou as luzes acesas e soube pelos vizinhos, que, na noite do dia 29, houve movimentação de veículo e pessoas na residência. De lá pra cá, ninguém mais viu Vanderlei. Suspeitando que o amigo pudesse estar dentro da casa, precisando de ajuda, Wilians procurou a Polícia e foi orientado a procurar um chaveiro para abrir a porta e verificar o imóvel. Ele fez isso. Porém, constatou logo de início que o automóvel do amigo não estava na garagem. Mas, estava tudo aparentemente normal. Normal até demais. E foi por isso que ele decidiu registrar o boletim de desaparecimento.
A irmã de Valdeci relata que, na noite do dia 29, seu irmão e o amigo Vanderlei estavam juntos na casa dela, quando decidiram sair, como sempre faziam. Diferente das outras vezes, que costumava manter contato com a família, informando onde estava, Valdeci não manteve mais contato. Ao ligar para o celular do irmão, ninguém respondeu as chamadas.
Imaginando que Valdeci tivesse sido vítima de um roubo ou coisa pior, a irmão registrou o desaparecimento.

Dia 2 de dezembro
Já passa da hora do almoço, quando a Polícia Militar recebe informações de que dois cadáveres foram encontrados em um matagal da Estrada Sete Quedas.
A PM vai até o local.
A cena que se vê não é nada bonita. Pelo contrário, é aterradora.
Embaixo de um pneu, já parcialmente queimado, está um cadáver começando a entrar em decomposição. A vítima apresenta uma fratura exposta na mão esquerda. Está de bermuda, camiseta camuflada e descalça. Tem outros pneus perto dele. Alguém pretendia colocar fogo no cadáver. O morto é Vanderlei.
Não muito longe dele, está o corpo de Valdeci, também estirado no mato. Ele está de bermuda verde, camiseta do Corinthians e uma sandália Rider. O rapaz tem uma lesão profunda na cabeça, e seu pescoço está rasgado.
Há indícios de que os dois rapazes, antes de morrerem foram agredidos brutalmente, com extrema covardia. O assassino deve ter usado uma faca e um barra de ferro, provavelmente. As armas do crime não são encontradas.
Mais tarde, o laudo vai revelar que a morte de Valdeci, foi causada por choque hemorrágico, decorrente da fratura exposta no pulso, causada por um “instrumento contundente”. Gravemente ferido, o rapaz sangrou até a morte.
O laudo da morte de Vanderlei vai revelar que o corte no pescoço foi a causa de sua morte, quase que instantânea.
O caso, que até então está sendo tratado como desaparecimento de pessoas, torna-se latrocínio, roubo seguido de morte. A polícia trabalha com essa hipótese pelo fato do carro de Vanderlei não ter sido encontrado. Suspeitam que, mataram os rapazes para roubar. É uma hipótese. Apenas uma hipótese.
Nos dias que se seguem ao duplo homicídio, várias pessoas começam a ser ouvidas pela Polícia Civil. Uma sabe menos que a outra. E o pouco que sabem, ou não falam, ou falam evasivamente. Vez ou outra, alguém diz alguma coisa relevante sobre os crimes.
Um tio de Vanderlei, conta que esteve na casa do sobrinho após saber da morte dele. E conta que, na ocasião, uma vizinha da vítima comentou que no dia em que ele sumiu, um rapaz moreno, alto, magro, rosto fino, cabelos cheios, foi visto na porta da residência com o automóvel de Vanderlei.
O tio, recolhendo os pertences do sobrinho, encontra uma foto de Vanderlei junto com um rapaz, que bate exatamente com a descrição fornecida pela vizinha. Com a foto em mãos, o homem procura novamente a vizinha para fazer o reconhecimento. Mas não consegue mais falar com ela. A filha da vizinha diz que a mãe está trabalhando e já adianta que ela não consegue reconhecer o rapaz. Fica claro para o homem que a vizinha está com medo de se envolver.
Ainda tentando identifica o rapaz da foto, ele mostra a mesma para um antigo vizinho do sobrinho. Ele identifica o rosto do retrato, como sendo um rapaz chamado Vagner. Esse vizinho ainda confidencia que Vagner morava junto com Vanderlei, mas havia sido expulso da casa, depois de um roubo que ocorreu no local.
O mesmo vizinho também conta que, quando Vanderlei não estava em casa, Vagner costumava levar muita gente lá, inclusive “travestis, prostitutas e homossexuais”.
Por esse motivo, Vagner acaba se tornando o principal suspeito do crime.
Um irmão de Vanderlei, apura os mesmos fatos que o tio, e fica convencido de que o rapaz que apareceu com o Corsa na casa da vítima, quando ela já estava desaparecida, era mesmo Vagner, e que a vizinha, estava com medo de falar.
Um amigo de faculdade de Vanderlei, ouvido pela polícia, conta que, no dia 23 de março de 2005, estava na casa do falecido, quando alguém bateu na porta. Vanderlei abriu e, pelo que o amigo viu, ele conhecia as pessoas que o chamavam. Quando deu as costas, pra ir buscar água para os dois rapazes na porta, eles anunciaram um assalto. De arma em punho, um dos assaltantes ficou vigiando os dois enquanto o outro foi buscar seus comparsas para ajudar no crime.
Depois de roubarem inúmeros pertences da casa os ladrões deram uma violenta surra em Vanderlei. Com o amigo da vítima, não fizeram absolutamente nada, deixando claro que a surra, era uma questão pessoa com Vanderlei, por algum motivo desconhecido.
Os ladrões fugiram em seguida, levando todos os pertences da vítima em um veículo Fiat, que Vanderlei tinha na ocasião. Porém, dois dias depois, ligaram pra ele indicando onde o carro estava.
No boletim de ocorrência que registrou sobre o assalto, Vanderlei nega conhecer os criminosos. Talvez por medo. Fica claro que está mentindo.
Assustado com o ocorrido, Vanderlei chega a mudar de casa.
Ouvida pela polícia, a vizinha que viu o suspeito sozinho no carro de Vanderlei na noite do crime, conta que o rapaz pretendia entrar na casa, mas ao ver muitas pessoas perto da residência, decidiu não descer do carro e foi embora. Teve medo de ser identificado.
Ela vê a foto, mas diz não saber ao certo se o rapaz é ou não Vagner.
Outra vizinha de Vanderlei, também ouvida pela polícia, revela que a vítima era muito discreta e sempre que chegava acompanhada em casa, mantinha os vidros do carro fechado e como o portão era automático, não dava pra ver quem entrava ou saía. Mas, confirma que no dia do desaparecimento, viu outro rapaz com o carro dele na porta da casa. Isso, depois que a vítima já tinha desaparecido.
Segundo testemunhas, Vagner, que não trabalhava, era sustentado por Vanderlei e foi expulso da casa, por ser o mandante do roubo ocorrido no local em que residia. Esse foi o motivo da briga que resultou em sua expulsão do local.
A Polícia Civil começa uma investigação para descobrir o paradeiro do principal suspeito. Mas, ele desapareceu.

Dia 2 de maio de 2006
O policial civil Enéas e os guardas municipais Paludeto e Rosão, ambos emprestados para a Polícia Civil, vão até a cidade de Juquiá, interior de SP, onde encontram a avó de Vagner. Ela diz que não vê o neto há dois anos e que o mesmo está morando com a mãe em Serra Azul, na região de Ribeirão Preto.

Dia 29 de agosto de 2006
Vagner é encontrado pela Polícia Civil de Serra Azul e ouvido pelas autoridades daquele município, a pedido da Polícia de Salto.
Ele conta que morou junto com Vanderlei por seis meses e, mesmo depois de ter saído da casa, todas as vezes que vinha pra Salto, dormia na casa do antigo companheiro. Diz ainda que esteve na casa da vítima pela última vez, quatro meses antes do crime. Conta que, após, sair da casa por não poder mais dividir as despesas, teria ido embora para a cidade do Guarujá, litoral paulista. Ele nega que tenha sido expulso de casa e afirma que um amigo em comum, entre ele e Vanderlei, em companhia de um outro sujeito, tenham planejado o assalto na residência. Vagner conta também que ainda avisou Vanderlei que planejavam roubá-lo.
Após tentar envolver pelo menos mais três pessoas no assalto, em um depoimento vago, mal sustentado, sem álibis e sem a menor credibilidade,Vagner nega tanto sua participação no duplo homicídio, quanto no roubo. E, mesmo sendo o suspeito número um do duplo homicídio, é liberado pela Polícia sem maiores complicações.
Se ele é o assassino, não é a Polícia de serra Azul e muito menos a de Salto que irá prendê-lo.
Vagner sai tranquilamente pela porta da frente da Delegacia e desaparece outra vez.

Dia 4 de outubro de 2006
A Polícia Civil de Salto conclui o inquérito referente ao duplo homicídio dos rapazes Vanderlei e Valdeci. O resultado não é nada bom.
Termina assim: “... a conclusão é que ele (Vanderlei) e seu amigo Valdeci, foram mortos por alguém que ele (Vanderlei) conhecia e era certamente do seu círculo de amigos, como sempre foi muito discreto a esse respeito, ficou praticamente impossível de se descobrir a autoria desse grave delito, até porque, se esse raciocínio estiver correto, o Vanderlei levou com ele o segredo que poderia identificar o autor e esclarecer o motivo de sua morte, bem como a de seu amigo Valdeci. Posto isto, exauridas as possibilidades de se chegar ao autor...”
Em uma cidade que está ficando famosa por suas meninas estupradas e apedrejadas, meninos desaparecidos, crianças degoladas e queimadas, domésticas mortas a pauladas e jovens executados a todo momento, dois homicídios a mais, ou a menos, não deve fazer diferença nas estatísticas criminais.
Se fizesse, o caso brutal, covarde e hediondo desses dois rapazes que nada fizeram para merecer um fim tão trágico, não estaria com o inquérito arquivado, amarelando, ou melhor, apodrecendo e sendo comido pelas traças em alguma gaveta.

Nenhum comentário: