terça-feira, 28 de agosto de 2007
ANDARILHOS DA MORTE
A primeira paulada acertou na cabeça. Abriu um corte profundo. O rapaz rodopiou e caiu. Não teve tempo de gritar, pois levou um violento chute na boca.
Cuspiu sangue. Começou a suplicar, mas foi castigado com mais pauladas, nos braços, nas pernas, nas costas e novamente na cabeça.
Sabendo que seria morto ali mesmo, reuniu suas últimas forças, rastejou um pouco e se levantou cambaleando. Olhou para seus agressores, e viu as expressões insanas dos três andarilhos a sua frente.
Eram eles, Sebastião Pereira da Silva, de 58 anos, Odilo Jorge da Silva, de 25, e Everaldo Manoel Nascimento, de 43.
Durante muito tempo, o rapaz, que estava sendo espancado, andou junto com aquele trio. Beberam juntos, dividiram esmolas, alegrias e sofrimentos, mas naquele momento, estava sendo espancado até a morte pelos ex-companheiros.
Já passava das 20horas, quando a discussão começou na rua Goiás, Bairro Brasil, bem em frente ao Senai.
Era noite de domingo, dia 10 de junho de 1984.
Pessoas que passavam por ali, não deram muita atenção ao quarteto de andarilhos, que discutiam entre si.
Parecia uma briga banal, provavelmente por bebida, ou um pedaço de pão a mais ou a menos, como é comum ocorrer.
Um dos andarilhos, que aparentava ter 30 anos, parecia estar sendo ameaçado pelos outros três, que repetiam ameaças.
A discussão progrediu. Um dos andarilhos tinha um enorme porrete de madeira nas mãos. O outro, uma velha faca de açougueiro, porém, muito bem afiada.
Quem estava nas proximidades, ouviu os gritos desesperados do andarilho ameaçado.
Cambaleando com muita dificuldade, ele implorou por clemência. Não teve.
Levou uma facada na barriga. Outra no peito, uma no pescoço e várias outras por todo o corpo. Caiu no chão, todo ensangüentado. Não teve mais forças para gritar ou clamar por socorro.
Mas, o instinto assassino de seus ex-companheiros ainda predominava. Os andarilhos da morte queriam mais sangue. Não iriam parar. Não, até que o rapaz estivesse morto.
Quando terminaram de dar chutes e pauladas, saíram correndo, tomando rumo ignorado, deixando para trás um cadáver ensangüentado, que um dia foi um companheiro.
Uma semana depois, um homem que viu os três andarilhos deixando a cena do crime, reconheceu os elementos na cidade de Salto.
Avisou imediatamente a polícia local, que deteve os suspeitos.
Ao serem avisados em Itu, os investigadores Dimas e Cruz foram até Salto, e trouxeram os três elementos para a cadeia local, onde confessaram o crime nos mínimos detalhes.
De acordo com Odilo, dono da faca usada no crime, eles assassinaram o amigo com requintes de crueldade, simplesmente porque o rapaz havia tentado furtar dele um velho radinho a pilha.
Espancaram o amigo violentamente, e depois o mataram a facadas e pauladas, por causa de um insignificante rádio.
Um crime tão patético e covarde, como seus próprios autores.
(Carlota)