terça-feira, 28 de agosto de 2007

SINDICATO DA MORTE

 

15 de março de 1990. O sindicalista Aparecido Virgílio, presidente do Sindicato dos Motoristas de Itu, sai da cidade para ir até Porto Feliz e Boituva. Não retorna para casa.
No dia seguinte, seu carro, uma Brasília, é encontrado nos arredores de uma favela de Boituva. Na mesma data, panfletos do sindicato sujos de sangue, são encontrados dentro de um saco plástico num terreno baldio de Porto Feliz. Três dias depois, seu corpo é localizado em Laranjal Paulista. Ferimentos fatais na cabeça.
O crime torna-se manchete em todos os jornais da região, e passa a ser investigado pelas quatro cidades por onde o sindicalista teria passado.
Antes de qualquer esclarecimento sobre o caso e uma possível elucidação do crime, o inquérito policial é estranhamente transferido para o Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC).
O caso nunca foi esclarecido.
Maio de 1991.
Luiz Alberto Rodrigues, ex-presidente do PT e militante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) sofre um acidente fatal na cidade de Alumínio. Estava pilotando uma moto, quando se chocou contra “algo” desconhecido.  Alguns dias depois, foi encontrado morto em um hospital de Sorocaba. Não portava nenhum documento.
Polêmica, suspeitas, rumores, investigações e o  caso não é  esclarecido.
9 de dezembro de 1991. Ednaldo Nobre Santana, sindicalista importante da cidade de Itu sai da sede do Sindicato dos Brinquedos e Produtos Artesanais, localizada na rua Marechal Deodoro, 390, Centro de Itu. Era pouco mais de 14 horas. Ele pretendia pegar alguns documentos em seu carro, estacionado em frente à sede. Não cai conseguir.
Um homem loiro de boné e camisa preta se aproxima com um revólver na mão. Santana pressente o perigo, mas é tarde demais. Leva um tiro a queima-roupa na altura do abdômen. Mesmo ferido, consegue atravessar a rua tentando fugir do atirador. Mais dois tiros são disparados. Não acertam o sindicalista. O atirador desaparece.
Gravemente ferido, Santana, homem muito forte, resiste a dor como pode, entra no carro com o então presidente do Sindicato, José dos Santos Filho, e vai até a Santa Casa, onde é socorrido às pressas. No caminho, conta ao companheiro que o homem que o baleou não é estranho e já o tinha visto antes, dentro da sede do Sindicato em que atuavam.
Sem conseguir resistir aos ferimentos, Santana morre quatro dias depois no hospital Santa Lucinda, em Sorocaba. De acordo com as apurações da época, pelo Setor de Investigações Gerais da Polícia Civil (SIG), o pistoleiro que baleou Santana teria fugido a pé até a rua do Bom Jesus, próxima ao local do crime, onde um Gol preto o aguardava com um motorista na direção. Nada foi confirmado ou provado.
19 de dezembro de 1991.
 João Batista de Souza, sindicalista ligado ao Sindicato dos Condutores Rodoviários de Itu e Região, é morto com quatro tiros na cidade de Paulínia. Segundo declarações de um membro do Sindicato na época, o crime teria ocorrido devido a uma discussão entre Souza e um companheiro de trabalho. Aparentemente não tinha conexão alguma com os outros três assassinatos em Itu.
21 de dezembro de 1991.
 O líder do PT, Luiz Inácio “Lula” da Silva, que no futuro seria presidente do Brasil, vem até Itu. Em um palanque armado na Praça do Carmo, faz um discurso emocionado em repúdio a morte de Santana.
Visivelmente revoltado, Lula chega a declarar que a morte de Santana estava ligada às eleições de um sindicato da cidade. Neste caso, também não se provou absolutamente nada.
30 de janeiro de 1992.
O sindicalista João Ferreira Marciano, presidente do Sindicato dos Ceramistas, registra Boletim de Ocorrência na Delegacia Central, alegando que teria sofrido uma tentativa de homicídio.
Segundo informou, um Gol ou Passat (não soube precisar) de cor escura, teria passado por ele com dois elementos dentro, e um deles teria efetuado dois disparos contra seu carro. Não houve testemunhas da tentativa de homicídio alegada pelo sindicalista.
Vários meses transcorreram. A população ituana finalmente achou que a temporada de caça aos sindicalistas havia terminado. Mas todos estavam mortalmente errados.
Ainda faltava mais um crime, mais uma vítima... uma última morte.
14 de setembro de 1993.
 O sindicalista Cláudio Ferreira de Moraes, tesoureiro do Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários de Itu, tomba morto. Cinco tiros de calibre 38, todos à queima-roupa. O crime ocorreu na sede do sindicato, localizada no Largo do Bom Jesus.
Um homem encapuzado foi visto deixando o local após os disparos.
Quatro dias depois desse crime a namorada de um dos investigadores que trabalhavam no caso foi arrastada por alguns indivíduos desconhecidos para dentro de um carro. Já no interior do veículo, com os olhos vendados, os homens, segundo ela contou à polícia, disseram para ele avisar o namorado para “sair do caso”. Posteriormente foi liberada.
Três dias depois, outro investigador que trabalhava no caso sai de uma padaria e ao chegar em seu carro, um bilhete no para-brisa: “Vou te matar investigador. Você não perde por esperar. Fique esperto”.
Com a morte de Cláudio, fechou-se o ciclo de sangue que rondava os sindicatos ituanos. Era o fim de uma era. A temporada de caça havia chegado ao fim.
Para as famílias dos mortos restaram a dor, incertezas e  a saudade de um ente querido, que jamais voltará.
A pergunta “por que ninguém quis esclarecer esses crimes?”, tornou – se um fantasma que até hoje vaga solitário pelos cantos da cidade.
Mas, na calada da noite, quando as luzes se apagam, alguns arriscam dizer que a recompensa para quem esclarecer esse mistério, não são as glórias da fama e sim uma fulminante... BALA NA CABEÇA.
 Você duvida?