Massacre na Delegacia Central
Antes de ser desativada, a cadeia pública de Itu serviu de palco para alguns dos assassinatos mais brutais, já ocorridos na cidade.
Estupradores e caguetas, vítimas prediletas de detentos, já morreram aos montes no velho prédio localizado na Floriano Peixoto.
Criminosos menores, por um motivo ou outro, também já tiveram suas vidas ceifadas ali dentro, sempre de forma brutal. Impiedosa.
Quando as luzes se apagavam, ou chegava a hora do banho de sol, acertos de contas, inúmeras vezes pagos com sangue, eram feitos, sem dó, sem clemência.
A história que vou contar aconteceu em março de 1981.
Caetano Júnior era um rapaz de 21 anos, solteiro, residente em Campinas, mas estava cumprindo pena em Itu, por ter praticado alguns crimes.
Não estava sozinho. Alguns de seus parceiros, com os quais já havia praticado furtos e assaltos, “moravam” com ele na mesma cela.
Era um grupo fechado. Restrito. Perigoso.
Junto com seus parceiros, Caetano colocava terror dentro da cadeia, segundo os detentos locais.
Sempre unido, o grupo era famoso por agir violentamente contra os outros detentos.
Inteligentes e audaciosos, os rapazes que formavam o grupo, elaboraram uma fuga na calada da noite, em um certo dia. Deu certo.
O grupo fugiu sem deixar vestígio nos últimos dias de fevereiro de 1981.
Quando a polícia local se deu conta do fato, já era tarde. Todos tinham desaparecido.
O grupo estava finalmente livre.
Mas deu algo errado para o jovem Caetano.
Ele acabou sendo detido como suspeito pela polícia de Amparo nos primeiros dias de março.
Verificando o DVC do suspeito, os policiais daquela cidade descobriram que ele era fugitivo de Itu, e o mandaram de volta.
Foi na noite do dia 5 de março, que Caetano foi novamente trazido para a sua cela.
Foi diferente dessa vez. Ele estava sozinho. Seus parceiros do crime já estavam longe. Em liberdade.
Caetano não havia deixado amigos na cadeia. E o pior... estava repleto de inimigos.
Na manhã seguinte, os presos saíram para o habitual banho de sol. Caetano também saiu. Seu erro. Erro fatal.
Ele estava em um canto do pátio, sozinho, quando um detento se aproximou. Depois veio outro. Mais outros. Em pouco tempo, um circulo se formou em volta do rapaz. Um circulo de terror. Havia dezenas de presos.
Cheiro de maldade no ar. Olhares sinistros. Sussurros. Cheiro de medo.
Era hora de mais um acerto de contas. Caetano iria pagar pelo que havia feito para alguns detentos quando estava com seu grupo.
Nas mãos de alguns detentos, surgiram vários estiletes artesanais, todos enormes, com capacidade para esquartejar um touro, ou um rapaz.
Pedaços de barras de ferro, das próprias grades surgiram nas mãos de outros.
Ninguém sabe, ninguém viu quem deu a primeira estiletada no peito do rapaz.
Uma barra de ferro bateu com tanta força na cabeça de Caetano, que arrancou fragmento de ossos, causando um traumatismo instantâneo. Não foi a única.
Foi golpeado na cabeça seguidas vezes. Não teve a menor chance de correr, quando começou a ser perfurado por estiletadas, de todos os lados. No rosto, no peito, nas pernas, nas nádegas, e talvez por puro sadismo, no pênis.
Seus órgãos genitais foram massacrados, espedaçados. A violência era tanta, que quebraram um dos braços do rapaz no meio, estourando o osso.
Quando o carcereiro ouviu os gritos, já era tarde.
Caetano havia sido trucidado. Linchado de forma implacável. Morreu antes de chegar no hospital.
O banho de sol havia se transformado em um banho de sangue.
A família do rapaz ficou perplexa ao saber da morte do filho através de uma emissora de TV de Campinas, já que alegaram não terem sido informada do fato pela polícia local.
Seja como for, os detentos que aguardavam a justiça de Deus, enquanto pagavam na justiça dos homens, praticaram naquele dia a justiça do Diabo. (Carlota)