terça-feira, 28 de agosto de 2007



PALHAÇOS QUE MATAM


O garotinho respirou aliviado quando o sinal da escola tocou.
Cinco da tarde.
Hora de ir embora.
Ele colocou a bolsa do Homem Aranha nas costas, despediu-se da professora e saiu da classe.
Estava faminto. Queria chegar logo em casa para comer os bolinhos que a mãe fazia.
Era um ano qualquer da década de 1990.
Ninguém se lembra mais de seu nome, mas sabe–se que ele tinha nove anos de idade e estava na terceira série.
Sua casa ficava há umas sete ou oito quadras da escola. Na periferia da cidade.
Para encurtar o caminho, ele costumava passar sempre por uma ruazinha de terra, semi-deserta, com vários terrenos baldios tomados pelo mato.
Foi exatamente nesta rua que o garotinho avistou uma Perua Kombi, branca. Os vidros eram escuros. Estava parada.
Antes que ele passasse por ela, a porta se abriu e saiu uma linda bailarina, toda vestida de branco. Uma música começou a tocar e a mulher fez alguns passos bonitos que chamou a atenção do garoto.
É claro que o delicioso algodão doce que ela segurava atraiu muito mais a atenção do menino.
O garoto abriu um largo sorriso e parou admirado diante da mulher sorridente. Ela se abaixou e lhe ofereceu o doce. Ele aceitou na hora. Afinal, era um menino, e meninos gostam de doces.
A música cessou abruptamente, mas ele nem percebeu. Estava ouvindo admirado a mulher dizer como ele era bonito, inteligente e principalmente “saudável”.
Ele já ia continuar seu trajeto para casa, todo orgulhoso, quando o motorista da Kombi saiu do veículo.
Era um palhaço. Ele tinha outro algodão doce na mão.
“Este é para seu irmãozinho” - disse o palhaço forçando um sorriso.
O menino sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Palhaços geralmente eram criaturas engraçadas - pensava ele - mas havia algo de estranho naquele.
Era grandalhão, musculoso, meio estranho.
Tinha um aspecto sinistro, aterrador. O garoto teve a impressão de que a criatura com a cara pintada olhava para todos os lados, como se quisesse se certificar de que não havia mais ninguém por perto.
O menino se lembrou que fora advertido pela mãe, de nunca falar e nem aceitar nada de estranhos.
Mas, mesmo sendo um tanto assustador, aquele era só um palhaço. Tudo bem que não era tão simpático quanto um Ronald Mcdonald , ou carismático como o Bozo, mas ainda assim, era um inocente palhaço.
O garoto esticou o braço para pegar o algodão doce. Foi nesse momento que uma expressão diabólica dominou o rosto do palhaço. A cara pintada transformou-se numa máscara de ódio, perversão e sadismo. Agindo como um verdadeiro maníaco, a criatura agarrou o menino pelo braço, tampou sua boca e o levou a força para dentro da Kombi.
A bailarina trancou a porta do veículo rapidamente, assumiu a direção e deu partida.
Dentro do carro, o sinistro palhaço abriu uma maleta preta, enquanto segurava o menino, que não parava de se bater, tentando escapar. Na maleta havia vários instrumentos cirúrgicos usados em hospitais, como bisturi, tesouras, seringas, entre outros instrumentos afiadíssimos.
O palhaço pegou a seringa com um líquido dentro, e aplicou uma dose no pescoço do garoto, que parou subitamente de se bater.
Pouco depois a Kombi estacionou num local deserto. A bailarina, que parecia ter a experiência de uma enfermeira, e o palhaço, que parecia ser um verdadeiro cirurgião, vestiram luvas de borrachas, jalecos brancos e iniciaram a cirurgia.
O menino de apenas nove anos, foi aberto vivo. Todos os seus órgãos principais foram removidos. Fígado, coração, rins, cada um foi colocado separadamente em pequenos compartimentos de uma caixa térmica, usada exatamente para aquele fim.
Após o trabalho, a carcaça do menino foi jogada no meio do matagal, onde só seria encontrada uma semana depois.
A notícia assustadora se espalhou rapidamente. Alguém, ninguém sabe quem, espalhou rumores sobre o tal palhaço assassino. Nos meses seguintes o palhaço que roubava órgãos passou a ser visto em várias cidades do país. Milhões de crianças em todo o Brasil, inclusive em Itu, estavam com medo de ir à escola. Ninguém queria ser a próxima vítima.
Mesmo com a descrição exata do palhaço e do carro que ele andava, ele nunca foi preso pela polícia. Alguns afirmam que ele anda por aí até hoje, mas as autoridades negam, pois oficialmente... ele nunca existiu.
Não existe prova alguma de que a história acima realmente aconteceu, embora já tenha sido alardeada como verdadeira no país inteiro. Ela é considerada uma Lenda Urbana.
São histórias sensacionalistas que permeiam o subconsciente coletivo de quem mora na cidade grande, embora muitas lendas urbanas sejam originarias de algum caso real.
Geralmente essas histórias são alimentadas pela insegurança natural e motivadas pela violência metropolitana.
Quem não se lembra da loira do banheiro? Do pipoqueiro que vendia balas com drogas...? Do maníaco que atacava pessoas no metrô com uma seringa cheia de sangue com HIV...?
Existem centenas, talvez milhares de lendas urbanas contadas nas mais diversas versões no mundo inteiro.
As histórias sempre aconteceram com o amigo do amigo do outro amigo do cara que está contando o caso. Nunca há testemunhas, nomes, datas ou lugares. Tudo é evasivo.
Algumas lendas, como a do palhaço assassino, são contadas com tantos detalhes, que acabam causando histeria coletiva entre as crianças, que chegam a jurar que viram o tal palhaço e a bailarina.
A polícia já garantiu mais de uma vez que o palhaço assassino, definitivamente, não existe. Só resta às autoridades explicarem agora como tantas crianças foram atraídas e brutalmente assassinadas em todo o Brasil, nos últimos anos, para terem seus órgãos roubados.
Às vezes, aquilo que você não acredita...pode acabar te matando.