terça-feira, 28 de agosto de 2007

A MORTE USAVA LINGERIE

foto meramente ilustrativa

Loira, linda e mortal, ela estava disposta a ir até as últimas consequências para vingar a morte do irmão
 
(Pelo fato da “assassina” desta história, ser uma pessoa que conheço e ter confiado em mim, anos atrás, ao me revelar os detalhes sórdidos dessa história,  vou me reservar o direito de não dizer seu nome. A foto também é meramente ilustrativa)
 
A loira era maravilhosa.
Pesava mais ou menos 56 quilos. Tinha um metro e setenta de altura.
Cabelos lisos batendo nos ombros, seios grandes e empinados, olhos claros e boca carnuda.
As pernas eram perfeitas e a bunda redonda, mais ainda.
Era sexy e tinha aquele olhar fatal que enlouquecia qualquer homem. Sabia de sua sensualidade.
Em uma noite fria de julho na metade da década de 1980, ela chegou em Itu.
Morava em São Paulo, nas imediações da Estação República,  mas tinha “negócios” para resolver na cidade dos exageros.
Negócios de vida. E negócios de morte.
Um mês antes, um homem havia sido assassinado na periferia da cidade. Mais precisamente no bairro Jardim Alberto Gomes.
Todo mundo sabia quem era o assassino. Todo mundo sabia os motivos do crime: Drogas.
Mas, ninguém disse nada. Ninguém viu nada.
Não houve prisões. Não houve punições.
O morto era apenas um viciado.
Ninguém importante. Só um drogado. Sem pai nem mãe.
Talvez, ninguém se importasse com sua morte.
Talvez.
O assassino continuou perambulando livremente pela periferia da cidade.
Ele se sentia o máximo. O melhor. O perigoso. O matador.
Mas aquele viciado insignificante, morto a tiros na quebrada, sufocado com o próprio sangue que saía de sua boca e nariz, tinha alguém que se importava com ele. Uma prostituta que fazia shows e programas em uma casa noturna da famosa Rua Aurora em São Paulo.
Ela havia saído de Itu na adolescência. Cresceu no Jardim Alberto Gomes, mas por nunca se conformar com a pobreza em que a família vivia, decidiu tentar a sorte na cidade grande.
Virar prostituta foi a maneira que encontrou para satisfazer seus caprichos e suprimir a sensação de miséria, que trouxera da infância.
Ganhou muito dinheiro em São Paulo. Não era rica, mas vivia bem.
Dez anos fazendo programas e economias, lhe rendeu um pequeno  apartamento, um carro popular e algum dinheiro para pagar as contas e viver.
Quando soube na notícia da morte do irmão, ficou arrasada. Eram muito ligados. Ela sempre o ajudou. Sempre o aconselhou. Sempre lhe mandou dinheiro para dividas de drogas, com medo de que um dia ou outro ele acabasse morto.
Ela era do meio, sabia como o esquema funcionava. Dívidas de drogas não tem perdão.
É olho por olho. Dente por dente.
O que mais a chocou quando soube do assassinato, foi a revelação da identidade do assassino.
Era alguém que ela conhecia dos tempos de infância, lá da escola Cícero Siqueira Campos. Um bandidinho patético, que se julgava perigoso, mas que não passava de um “ganso”, cagueta da polícia, pilantra safado e ordinário. Era dessa maneira que ele era descrito no bairro. Os mais íntimos o chamavam de “Neguinho”. Mas ele não gostava do título. Só permitia o apelido por parte de conhecidos muito próximos.
Como Neguinho morreu, muita gente ainda se lembra.
Foi encontrado com o rosto rasgado por uma navalha dentro de seu barraco. Seu pênis estava dependurado, quase fora decepado pelo corte profundo.
Um talho enorme abria sua garganta de um lado a outro.
Oficialmente, o caso nunca foi esclarecido.
Ninguém sabe, ninguém viu nem ouviu, quem retalhou Neguinho.
Mas, uma dona de casa exemplar, bem casada, hoje  na casa de seus sessenta anos, mãe de dois filhos já adultos, sabe exatamente como foi o crime.
Ela sorri quando se lembra da doce vingança. A lembrança de um crime que já prescreveu, e que ela jamais vai responder por ele. Ela matou o assassino de seu irmão, do jeito que ele merecia. Ela o sangrou como um porco. Até a morte.
Em um  sábado, meados dos anos  80, a loira tomou um delicioso banho em um hotelzinho barato da Praça da Matriz. Pintou os olhos, se perfumou e passou um batom vermelho. Vestiu uma minúscula calcinha branca. Colocou uma cinta-liga sexy, um sutiã meia taça que deixava seus  seios ainda mais empinados e vestiu uma blusa que deixava suas costas a mostra.
Colocou uma minissaia preta, bem agarrada e complementou com um provocante salto-alto.
Abriu sua bolsa de couro e certificou-se de que sua navalha estava lá dentro. Estava. Em São Paulo, uma prostituta que se prezasse naquela época, nunca sairia de casa sem sua navalha.
Estava perfeita. Maravilhosa. Deslumbrante. Vestida para matar!
A loira saiu rebolando do hotel por volta das 23h.
Por onde passava era chamada de “loira gostosa, loira deliciosa”. Ouvia inúmeras  palavras obscenas.
Ela gostava daquilo.
Estava acostumada a ser desejada, cobiçada e possuída por homens de toda espécie.
Tinha plena consciência de sua sexualidade e contava com isso para realizar sua vingança.
Quando chegou ao forró no bairro Padre Bento,  onde já sabia que seu alvo estava, ela tornou-se o centro das atenções.
Depois de perceber que estava sendo notada por um certo indivíduo há muito tempo, ela “sobrou” pra ele. “Neguinho” não acreditou quando percebeu a loira gostosa dando bola.
Ele sabia quem ela era. Lembrava-se dela do passado. Mas, na sua mente de ladrão ignorante, pensava que a loira não sabia que ele havia matado covardemente o irmão dela.
Três tiros. Foi assim que Neguinho havia derrubado o moleque um mês antes.
Assim que a loira saiu para “tomar um ar”, Neguinho saiu atrás.
A isca estava lançada.
Foi atrás da loira perfumada como um louco.
Ele se encontrou com ela na pracinha da igreja, pra baixo do forró.
Ela sorriu. Trocaram algumas palavras. Ela foi direta. Falou seu preço. Neguinho aceitou.
Ia se dar bem. Uma bagatela para transar uma hora inteira com a loira deliciosa.
Não sabia o que o esperava realmente.
Foram até o barraco imundo e miserável onde ele vivia, nas imediações da igreja Nossa Senhora Aparecida.
A loira pediu para ele pagar adiantado. Ele pagou.
Neguinho, visivelmente excitado passou as mãos pelas coxas e seios da loira. Não estava conseguindo se conter.
Com voz baixa e sensual, a loira mandou ele se deitar, disse que  iria fazer “tudo”.
A cama de madeira podre, escorada por tijolos, rangeu quando Neguinho, já sem roupa, deitou-se sobre ela.
A loira perguntou onde ficava o banheiro. Neguinho apontou com o dedo.
Ela disse que ia se trocar e já voltava.
Minutos depois ela saiu só de lingerie e  salto. Estava com as mãos pra trás.
Foi rebolando em direção a Neguinho.
Ele já estava quase explodindo de tanta vontade de fazer sexo. Ela via sua ereção subir cada vez mais. Por fora era uma loba insaciável, por dentro, uma víbora assassina, prestes a matar.
Bem devagar, a loira se ajoelhou na cama, foi subindo de mansinho e curtindo cada segundo da excitação de Neguinho.
A loira segurou com a mão esquerda no pênis do excitado “cliente”.
Ele se contraiu de tanto desejo.
“Vou acabar com você” - disse Neguinho sorrindo.
A loira sorriu maliciosamente.
Sem o menor aviso ela ergueu a mão direita com a afiadíssima navalha e disse:
“Eu ia dizer a mesma coisa”.
O sangue jorrou longe.
Dois dias depois quando o corpo foi encontrado, a Polícia Civil da época classificou o crime como “acerto de drogas”.
O crime foi noticiado na época pelo Periscópio e pelo extinto Jornal de Itu, e em nenhuma das matérias, teve qualquer menção sobre uma loira sexy e enigmática, que parece ter saído de um conto de crimes para realizar uma vingança implacável.
Neguinho, assassino, bandido, cagueta filho da puta, morreu exatamente do jeito que matou... na crocodilagem.